Notícias
Estudo aponta que SUV's apresentam maior risco para crianças; entenda
Das 430 crianças que morrem anualmente em acidentes rodoviários na Europa, cerca de um terço são pedestres, maioria em ambientes urbanos e em baixas velocidades

Com o passar dos anos, o gosto do consumidor muda. Ele vê outras linhas de design de forma mais favorável, muda de direção e começa a escolher diferentes tipos de estrutura, tamanhos, formas e cores. No setor automobilístico, essa mudança nos padrões de consumo ficou evidente com a ascensão global dos SUV's (Sport Utility Vehicles) em detrimento dos sedãs ou carros de médio porte, algo que, anos depois, poderia representar um perigo para os pedestres, segundo um estudo.
Nas urnas:
Sedã, SUV ou hatch?
Essa nova tendência por veículos com maior distância do solo, tamanho e espaço interno, juntamente com um chassi que proporciona uma aparência mais robusta, resultou em modelos comercialmente disponíveis com visibilidade reduzida do entorno imediato à frente, algo que os sensores parecem não cobrir. Além disso, as picapes também são extremamente populares, não apenas por sua função principal de trabalho, mas também para dirigir no dia a dia e nas cidades.
O risco dessa tendência de veículos mais altos com chassis longo, porém, foi detalhado pela organização ambiental Transport & Environment (T&E), em um estudo com a Universidade de Loughborough, na Inglaterra, onde investigaram a visibilidade em veículos altos.
A entidade analisou o campo de visão de veículos de grande porte, como o RAM TRX e o Land Rover Defender. Após testes, constatou que uma criança pequena parada diretamente em frente a esse tipo de modelo fica completamente fora do campo de visão do motorista, devido à altura do capô.
O estudo determinou que, embora a visibilidade comece a melhorar abaixo de 85 centímetros, a dianteira do RAM TRX mede 130 cm e a do Defender, 115 cm. Um hatchback como o Volkswagen Golf, com capô de 75 cm, oferece uma visão muito mais ampla e segura. Mas esta não é apenas uma questão técnica. De acordo com a T&E, as limitações visuais resultantes destes projetos levam a um aumento de acidentes e situações de risco, especialmente ao fazer curvas, sair de uma garagem ou entrar em garagens.
A preocupação aumenta ainda mais quando se considera que os pedestres mais vulneráveis, as crianças, são os mais afetados. Das 430 crianças que morrem anualmente em acidentes rodoviários na Europa, cerca de um terço são pedestres, a maioria em ambientes urbanos e em baixas velocidades.
Capôs mais altos é tendência
A mesma pesquisa detalha que, desde 2010, a altura média do capô dos veículos vendidos na União Europeia, Reino Unido e Noruega aumentou de 76,9 cm para 83,8 cm. Esse aumento — de meio centímetro por ano, em média — projeta um cenário preocupante se não for controlado, já que uma média de 92 cm seria alcançada até 2040. Essa tendência está intimamente ligada ao crescimento do segmento de SUVs, que representará mais de 50% dos carros novos até 2024.
Por que esses tipos de projetos são permitidos se comprometem a segurança no trânsito? Parte da resposta está nos protocolos atuais. Hoje, organizações como a Euro NCAP avaliam principalmente a segurança passiva, ou seja, a proteção dos ocupantes em caso de colisão. Os testes são realizados com manequins padronizados e medem os impactos na cabeça e nas pernas. No entanto, não há análises sistemáticas que considerem a visibilidade do motorista sobre o que está acontecendo diretamente à frente do veículo.
Mesmo sistemas avançados como a frenagem automática de emergência (AEB), obrigatória para carros novos na UE a partir de julho de 2024, apresentam limitações. À noite ou na chuva, e mesmo com câmeras e radares ativos, crianças podem não ser detectadas se estiverem perto do para-choque. O risco, segundo a T&E, começa antes do impacto: na falta de percepção dos perigos imediatos.
Após sua reclamação, a instituição está propondo uma série de reformas regulatórias específicas, como limitar legalmente a altura máxima do capô a 85 cm em carros novos a partir de 2035, incluindo essas informações na documentação oficial do veículo a partir de 2030, projetando um teste obrigatório de visibilidade infantil que simula situações da vida real e revisando protocolos de colisão para incorporar a perspectiva de pedestres vulneráveis.
O limite de altura estabelecido pela agência não é arbitrário; corresponde aproximadamente ao centro de gravidade de 95% das mulheres e crianças maiores de 11 anos. Abaixo desse nível, o risco de morte em caso de impacto é significativamente reduzido. Portanto, melhorar a visibilidade não só ajuda a prevenir acidentes, como também a mitigar suas consequências, caso ocorram.
O debate é especialmente relevante para as grandes cidades, onde o tamanho dos veículos colide com os limites do espaço público: ruas estreitas, calçadas lotadas e zonas escolares. A principal razão pela qual a agência divulgou essas informações é porque acredita que um marco regulatório é necessário antes de 2027, o que permitiria que o setor se adaptasse a tempo de tornar a meta de 2035 viável.