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Vacina contra o VSR, disponível no Brasil, é ligada a risco 29% menor de demência
Estudo de Oxford aponta mais um imunizante relacionado a um risco menor de desenvolver a doença, assim como as doses contra herpes-zóster e gripe

A vacinação contra o vírus sincicial respiratório (VSR) entre idosos foi associada a um risco 29% reduzido de demência nos 18 meses seguintes à sua aplicação em um novo estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford, no Reino Unido, publicado na revista científica npj Vaccines. O trabalho é mais um que encontra um benefício da imunização entre os mais velhos para a saúde cerebral.
No trabalho, os cientistas avaliaram o uso da Arexvy, imunizante da GSK aprovado para prevenir o VSR entre maiores de 60 anos. A dose é autorizada no Brasil pela Anvisa, mas está disponível apenas na rede privada. O VSR é uma das principais causas de síndrome respiratória grave entre recém-nascidos e idosos, junto com a gripe e com a Covid-19.
Os britânicos analisaram registros médicos de mais de 430 mil pessoas dos Estados Unidos por meio da TriNetX, uma plataforma global que integra dados clínicos de milhões de pacientes de forma anônima para fins de pesquisa. Eles compararam aqueles que receberam a dose com outros indivíduos que haviam sido vacinados apenas contra a gripe e constataram o menor número de novos casos de demência entre os imunizados.
Essa não é a primeira a demonstrar uma eficácia da vacinação para reduzir a chance de desenvolver demência. Um estudo de pesquisadores da Universidade de Stanford, publicado no periódico Nature, analisou registros de saúde de mais de 280 mil idosos com 71 a 88 anos de idade no País de Gales e descobriu que aqueles vacinados contra herpes-zóster tiveram 20% menos casos de demência nos 7 anos seguintes à aplicação.
A vacina utilizada foi a Zostavax, da MSD, a mais antiga. Porém, um trabalho conduzido pelo grupo de Oxford, o mesmo que investigou a dose contra o VSR, comparou o imunizante mais usado hoje, chamado Shingrix, com a Zostavax e descobriu que ele chega a aumentar a eficácia contra demência em 17% nos 6 anos após a administração da dose.
A Shingrix é também da GSK e está disponível no Brasil na rede privada para adultos com 50 anos ou mais ou maiores de 18 e um risco aumentado para a doença. No novo estudo em que avaliou a vacina da VSR, os pesquisadores de Oxford também analisaram novamente os números da Shingrix e confirmaram a eficácia.
“Nossas descobertas mostram que as vacinas contra dois vírus distintos, herpes-zóster e VSR, levam à redução da demência. Isso dá outro motivo para tomar as vacinas, além de sua eficácia na prevenção dessas doenças graves”, diz o autor principal do estudo e pesquisador do Departamento de Psiquiatria de Oxford, Maxime Taquet, em comunicado.
Não se sabe ainda por meio de quais mecanismos as vacinas contribuem para reduzir o risco. Uma das hipóteses é que os vírus teriam uma relação com os quadros de declínio cognitivo, e ao preveni-los com o imunizante, evita-se também a demência.
No entanto, são muitas as vacinas, para diferentes vírus, que já foram ligadas a um menor risco do diagnóstico. Além da para o VSR e para herpes-zóster, um estudo de 2023 publicado no Journal of ’s Disease mostrou que pessoas que receberam a vacina contra difteria tinham 30% menos chance de desenvolver a doença de Alzheimer, principal forma de demência.
O risco foi 27% menor entre aqueles vacinados contra o pneumococo, e os mesmos pesquisadores já haviam demonstrado anteriormente que pessoas que tomaram a vacina contra a gripe regularmente tinham 40% menos probabilidade de desenvolver a doença.
Outra hipótese é que o efeito positivo das vacinas fortalece o sistema imunológico como um todo, inclusive no cérebro. Mas um novo fator que parece influenciar nessa resposta foi apontado no novo estudo que analisou as doses para o VSR e para herpes-zóster, ao menos para aumentar a eficácia.
Os cientistas de Oxford comparam ambos os imunizantes com a dose da gripe e observaram que a redução do risco foi maior. Uma diferença presente nas duas vacinas, mas não na da gripe, é que as duas têm um mesmo adjuvante, chamado de A201. O ingrediente é usado para potencializar o efeito do imunizante.
Além disso, estudos laboratoriais separados mostram que o AS01 estimula células do sistema imunológico que podem ajudar a proteger o cérebro contra alguns dos processos nocivos envolvidos na demência, afirmam os pesquisadores.
“Os achados são impressionantes. Precisamos de estudos que confirmem se o adjuvante presente em algumas vacinas contribui para a redução do risco de demência — e entender como isso ocorre”, afirma o autor sênior do estudo Paul Harrison, do Departamento de Psiquiatria da Universidade de Oxford.