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Canela: vilã ou aliada? Estudo aponta risco de interferência no efeito de medicamentos

Ingerir pequenas quantidades de canela em pó no café ou na comida dificilmente causará efeitos negativos

Por Narciso Barone 02/07/2025
Canela: vilã ou aliada? Estudo aponta risco de interferência no efeito de medicamentos
Canela: vilã ou aliada? Estudo aponta risco de interação com medicamentos (Foto: Freepik)

A canela é tradicionalmente vista como um alimento benéfico à saúde. Seu aroma marcante e seus supostos efeitos positivos, como o controle da glicemia e a ação antioxidante, contribuíram para sua popularidade em dietas e tratamentos naturais. No entanto, um estudo publicado na revista científica Food Chemistry: Molecular Sciences lança um alerta importante: o consumo excessivo da especiaria — especialmente na forma de suplementos concentrados — pode comprometer a eficácia de diversos medicamentos de uso contínuo.

Segundo a pesquisa, conduzida pela Universidade do Mississippi, a canela pode afetar a maneira como o organismo metaboliza fármacos, o que pode resultar na eliminação precoce dos princípios ativos e, consequentemente, na perda de seu efeito terapêutico.

Como a canela interfere nos remédios?

O estudo identificou que o cinamaldeído — composto responsável pelo aroma e sabor característicos da canela — ativa receptores no organismo que aceleram a metabolização hepática de medicamentos. Esse processo pode fazer com que o corpo processe e elimine os remédios mais rapidamente do que o ideal, comprometendo seus efeitos.

“A ingestão excessiva de suplementos de canela pode comprometer a ação de remédios essenciais, como os usados para tratar hipertensão, diabetes e depressão”, alertou a pesquisadora Shabana Khan, uma das autoras do estudo.

Esse efeito se torna ainda mais preocupante quando se trata de pacientes com doenças crônicas, que dependem do controle preciso da dosagem de seus medicamentos.

Variedades de canela: nem todas têm o mesmo nível de risco

Outro ponto fundamental da pesquisa foi a diferenciação entre os tipos de canela. A mais popular no Brasil é a canela cássia, comum nos supermercados e em suplementos. Essa variedade possui altos níveis de cumarina, substância com propriedades anticoagulantes que, em excesso, pode ser tóxica ao fígado e aumentar o risco de hemorragias — especialmente quando combinada com medicamentos anticoagulantes.

Já a canela do Ceilão, conhecida como "canela verdadeira" e originária do Sri Lanka, contém níveis significativamente mais baixos de cumarina, sendo considerada mais segura em termos de interação medicamentosa.

“O uso contínuo da canela cássia pode ser perigoso, especialmente para quem já utiliza anticoagulantes”, explicou Amar Chittiboyina, diretor associado do centro de pesquisa envolvido no estudo.

Suplementos de canela: os maiores vilões da interação medicamentosa

Ingerir pequenas quantidades de canela em pó no café ou na comida dificilmente causará efeitos negativos. O alerta dos pesquisadores se concentra nos suplementos concentrados, como cápsulas ou extratos líquidos da especiaria, que estão se tornando populares entre pessoas que buscam alternativas naturais para melhorar a saúde.

“Os suplementos não são destinados a tratar ou curar doenças, mas muita gente os consome como se fossem medicamentos naturais, sem saber que isso pode alterar a eficácia do tratamento médico”, explicou Bill Gurley, coautor do estudo.

Além da interação com medicamentos, o uso indiscriminado de suplementos pode mascarar sintomas de doenças ou atrasar o início de tratamentos médicos apropriados.

O que os médicos recomendam?

Diante dessas descobertas, especialistas recomendam cautela. Antes de incluir qualquer suplemento — mesmo natural — na rotina, é fundamental conversar com um profissional de saúde. Isso é ainda mais importante para pessoas em tratamento contínuo com medicamentos, como hipertensos, diabéticos, depressivos ou pacientes com doenças cardiovasculares.

Além disso, é necessário redobrar a atenção ao ler rótulos de produtos naturais e verificar qual tipo de canela está sendo utilizado e em que concentração.

Natural nem sempre é inofensivo

O caso da canela serve como mais um exemplo de como produtos naturais também podem apresentar riscos — principalmente quando consumidos em excesso ou sem orientação. O fato de uma substância ser de origem vegetal não elimina seu potencial de interação com o metabolismo humano ou com medicamentos.

A crescente popularização dos suplementos naturais exige que consumidores estejam cada vez mais atentos e bem informados. Buscar fontes confiáveis, consultar médicos e adotar uma postura crítica diante de promessas milagrosas são passos fundamentais para proteger a saúde.


Antes de consumir remédios caseiros ou suplementos naturais, consulte um médico para evitar possíveis complicações à saúde.

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