Lexa retorna aos palcos após cinco meses da morte da filha: 'O que passei é incurável. Mas dá pra ser feliz'

Artista faz seu primeiro show no Rio depois da maior dor da sua vida: 'Achei que nunca mais fosse conseguir cantar funk’

Por Agência O Globo - 06/07/2025

Dois mil e vinte e cinco entrou para a vida de como um ano de grandes transformações. A cantora completou três décadas de vida e o primeiro ano do noivado com o ator Ricardo Vianna. Outro momento marcante foi o nascimento de sua primeira filha com o artista, a Sofia, que . A carioca teve pré-eclâmpsia, uma condição grave para gestantes, que aumenta a pressão arterial, e o parto teve que ser feito de forma prematura. Hoje ela é inspiração e força para outras mamães que passaram pela mesma situação, como Tati Machado (com quem ela curtiu viagem para o Amazonas recentemente). Cinco meses após a perda, Lexa volta aos palcos em um show que promete agitar a Zona Norte do Rio.

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No próximo sábado (12), ela se apresenta no “Arraial da Nubrilho”, na quadra do Império Serrano, em Madureira, bem ao estilo da cantora, com muita alegria, mas com uma Lexa transformada. Agora, mais ligada à sua fé, a artista carioca revê suas prioridades, sem esquecer sua origem humilde. Com passagens por comunidades do Rio, como o Parque União, Imbariê e Jacarepaguá, Lexa mostra uma força que vai muito além da voz que encanta seu público.

Retorno aos palcos

“Vai ser o meu primeiro show no Rio, de retorno mesmo. Voltei com várias novidades. Gravei uma música com uma pessoa bem grande do funk. Acho que a galera vai adorar. Tô recebendo muitas propostas diferentes que ainda não tinha experimentado. Quero mesmo me abrir para coisas novas. Percebo que sou muito mais forte do que imaginei, sabe? Agora eu estou querendo esbanjar (risos)”.

Nova fase

“O público vai ver uma Lexa diferente, com outra perspectiva de vida. Depois que você passa por algo traumático, que marca sua vida, é impossível ser a mesma pessoa de antes. Tô vivendo um momento de uma força inacreditável. Dentro de mim, achei que eu não fosse capaz. É um recomeço também, porque é como se eu voltasse ao game”.

Salva pela fé

“Embarquei na fé, é o que me sustenta. Fiz muita terapia no processo do luto, li livros, escutei várias mães. Aprendi ouvindo histórias. De alguma maneira, você acaba virando um alicerce para pessoas que, infelizmente, passam pela mesma situação. Uma segura a mão da outra. É um universo bonito e acolhedor. Mandei mensagem (para famosas que perderam bebê recentemente), conversei e respeitei o momento. No que eu posso ajudar, eu ajudo”.

Luto

“Sem dúvidas foi a fase mais difícil da minha vida. Nada vai ser pior e tão doloroso. Foi um grande marco pelo qual nunca imaginei que fosse passar. Me aproximei muito de Deus. Não vou lançar música gospel. Não, calma. Estou me aproximando do meu jeitinho. Hoje, enxergo tudo diferente”.

Resiliência

“Acho que um dos maiores desafios da vida é não ficar no lugar de vítima. ‘Ai, tudo acontece comigo’, ‘Por que eu?’. Não evoluímos assim. No meio de todas essas coisas que aconteceram, eu tive que lidar com a inteligência emocional. Ressignifiquei o valor das coisas e, hoje, eu falo sorrindo. Dói, óbvio, vai doer para sempre. O que passei é incurável. Mas dá pra ser feliz. Achei que nunca mais fosse conseguir cantar funk. A gente pensa que não é capaz de se reconstruir, de se reerguer”.

Parceria do noivo

“Os pais engolem muito o choro para as mães chorarem. Fazem isso para serem alicerce, mas sofrem muito. Ricardo foi um grande parceiro. Quando eu estava internada, ele fazia tudo por mim, não saiu do meu lado nem um segundo. Executou o papel dele de forma perfeita, como eu esperava. Agora, estou no momento de cuidar da minha saúde. Tive uma condição muito rara. Estou no processo de recuperação, fazendo muitos exames. Primeiro, tenho que estar muito bem, entender tudo o que aconteceu para aí sim eu pensar (em ter outro filho). Tenho que estar muito bem alinhada, saúde e cabeça, para pensar nisso novamente. Pelo menos por um ano, eu já sei que não posso engravidar”.

Apoio de famosas

“Ivete Sangalo ligou para a minha mãe e falou: ‘O que ela precisar, qualquer coisa, não tenha vergonha de me pedir’. Ivete foi uma grata surpresa. Eu tenho um amor muito grande por ela, mas não somos melhores amigas. De qualquer forma, ela teve uma atitude de melhor amiga. Entende? Pocah também tinha um grupo de atualizações do meu estado. Vi uma corrente de amizade indo muito além da música, dos holofotes. É lindo quando alguém te liga no “off” e te diz: ‘O que você precisa? Eu tô aqui’”.

Corpo diferente

“Depois que você tem uma pré-eclâmpsia, o corpo fica diferente. Como muda a pressão do nível arterial, o corpo incha. Já perdi todo o peso que ganhei (10kg), mas o corpo não volta a ser como antes. Passei por uma cesariana. Tenho uma cicatriz, que me dá muito orgulho, por sinal. Mas ali onde passou a ‘faca’ não vai ser do jeito que era. Não estou tão neurótica não, viu? Tô gata, cada dia um passo, tá tudo certo. Sinto que falta empatia da sociedade em algumas coisas, mas me senti acolhida. Não vi ninguém falando nada do meu corpo. Falam que minha genética é ótima, que estou linda. Tô acreditando (risos). Mas senti a pressão estética antes da gravidez. Não tenho vontade de fazer procedimento algum no momento, nem posso. Tenho desejo de ter filhos. Então, depois que eu tiver, eu ajeito tudo que eu quiser. Quando acontecer, eu não vou negar nem fazer a egípcia”.

Próximos 30 anos

“Quando eu tiver 60 anos, acho que vou ser uma velhinha que vai estar provavelmente em algum cruzeiro gastando dinheiro. Vou viajar o mundo. Vou ser aquela velhinha que vai à igreja, igual à minha avó. Tenho uma vida inteira pela frente, quero fazer shows em lugares que ainda não conheço. Quero estar com os meus filhos também, com a minha família, óbvio, todo mundo juntinho. Quero viver um dia após o outro, mas não crio muitas expectativas, deixo a vida me surpreender. Sempre achei que tivesse controle sobre as coisas. A minha filha veio para quebrar isso. A gente não tem controle sobre absolutamente nada”.

Origem

“Quando nasci, a minha mãe não sabia nem meu sexo. Ela fez só duas ultrassonografias durante a gestação. Vim ao mundo num dia de greve de ônibus no Rio de Janeiro, com minha mãe parando de maternidade em maternidade. Ela foi a minha maior parceira, nunca soltou minha mão. Minha origem fala muito sobre a minha essência. Vim de um lugar muito humilde. Sempre dei valor a cada dinheiro que ganhei. O fato de o início ter sido árduo, duro mesmo, só faz com que eu seja, hoje, ainda mais grata. Olho isso quase como um milagre. Sair de uma comunidade, transformar sua vida e ainda conseguir transformar outras vidas... é uma bênção. A época da padaria (Lexa era padeira) foi complicada. Eu tinha 16 anos, estudava, trabalhava e cantava na igreja. Precisava ajudar minha mãe a pagar o aluguel. Já passei por cada coisa... Se eu contar, vai ser babado”.

Presença do pai

“Após o ocorrido (com o bebê), meu pai foi atrás de mim, me procurou (Lexa foi criada apenas pela mãe e sempre viu o pai esporadicamente, como em datas de aniversário). Eu não sou tão próxima dele, mas a gente se fala mais hoje. Ele não é muito presente, mas se fez presente nessa ocasião”.

Relacionamento

“O Ricardo foi uma grata surpresa. Eu o conheci em (Fernando de) Noronha. Eu estava solteira há pouquíssimos dias. Ele viu essa sereia maravilhosa andando por Noronha e falou: ‘Não vou deixar esse peixão passar’(risos). A gente está junto até hoje e fizemos uma filha linda. Sou muito fã do trabalho dele também. Ricardo é bem diferente de mim em vários quesitos. Ele gosta de meditação, é esquecido, indeciso e muito engraçado. Parceirão”.

Intimidade

“Ah, não tem nada de início (de relação) ainda aqui não. Depois que você passa por uma UTI e a pessoa limpa a sua axila... (risos), não tem mais essa. Todo aquele negócio de não soltar pum na frente acabou. Aqui é vida real. O relacionamento é um investimento dos dois lados. Você tem que dizer sim todos os dias. A gente ainda está se conhecendo porque foi tudo muito rápido. Tem que confiar, entender o trabalho do outro. Complicado, porque eu sou uma artista do funk e ele é ator. As cenas dele (de amor) prefiro nem ver. O que os olhos não veem o coração não sente (risos). E vejo o quanto profissional ele é. Eu falo isso brincando, mas tem um fundo de verdade (risos). Morri de rir nas cenas com Odete Roitman (Deborah Bloch — Ricardo foi amante da vilã em “Vale tudo”). Mas, quando começa a pegação pesada, troco de canal, abro o meu Instagram...”.

Carnaval

“O convite da Dragões (da Real, escola de samba do Grupo Especial do carnaval paulista, em que Lexa desfilará como madrinha de bateria em 2026) chegou há anos, mas, por eu ter exclusividade com a (Unidos da) Tijuca, não podia aceitar (Lexa foi rainha de bateria da agremiação por cinco anos e não desfilou em 2025 por conta da morte da filha). Agora, pude aceitar de todo o meu coração. Tudo na Dragões se encaixa comigo. Eles me acolheram de verdade, respeitaram meu tempo e o meu trabalho. A Tijuca decidiu seguir com uma nova rainha, tenho que respeitar. Vida que segue. Só desejo coisas boas para a Tijuca. Agradeço à família que faz a escola acontecer, a comunidade do Borel.

Lexa usou: Look estola: estola Powerlook e acessórios Iara Figue Look vermelho: vestido Honória para Powerlook Ipanema, brincos Iara Figue para Galeria Iara Figue, anel Cárá para Galeria Iara Figue Look rosa: vestido Powerlook; brincos Cárá para Galeria Iara Figue; anéis Iara Figue para Galeria Iara Figue Look verde: a cantora veste terno Splash e joias Puchu para Galeria Iara Figue

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Créditos: Texto: Thomaz Rocha Edição: Camilla Mota Fotos: Márcio Farias @marciofariasfoto Edição de moda: Ale Duprat @aledupratoficial Styling: Kadu Nunnes @kadununnes07 Beleza: Vivi Gonzo @makegonzovivi Assistente de Beleza: Camila Gonzo @camilagonzo