Notícias

Quase metade dos municípios brasileiros não têm jornais locais, mas 'deserto de notícias' reduziu desde 2023

'Atlas da Notícia' foi divulgado nesta quinta, no Congresso da Abraji, em São Paulo

Por Agência O Globo - 10/07/2025
Quase metade dos municípios brasileiros não têm jornais locais, mas 'deserto de notícias' reduziu desde 2023
Atlas da Notícia de 2025 (Foto: Divulgação)

Dos 5.570 municípios mapeadas pelo "Atlas da Notícia", em 2.504 não foram encontrados jornais locais em atividade, o equivalente a 45%. Nesses locais, vivem aproximadamente 20,6 milhões de pessoas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda assim, os "desertos de notícias" reduziram em dois anos: mais 208 municípios brasileiros passaram a contar com ao menos um veículo de comunicação desde 2023 — 251 municípios foram beneficiados, enquanto 43 fizeram o movimento contrário.

Os dados foram apresentados nesta quinta-feira, 10 de julho, durante o Congresso Internacional da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), em São Paulo. Ao todo, foram encontrados 14.809 veículos jornalísticos em atividade no Brasil, sendo 5.712 veículos online, 4.994 rádios, 2.852 meios impressos e 1.251 emissoras de TV. Em dois anos, 334 iniciativas encerraram os trabalhos, mas 801 novos meios foram registrados no mesmo período, gerando saldo positivo.

O Atlas destaca que a maior expansão de municípios abrangidos pelo jornalismo local se deu no Nordeste. A região incorporou 283 novas iniciativas, um crescimento de quase 11% em relação ao censo anterior, e 143 cidades deixaram de ser consideradas "desertos". O principal meio de crescimento foram os blogs e portais na internet, com as rádios também ampliando a operação. Publicações impressas diminuíram, enquanto as emissoras de televisão demonstraram estabilidade.

Um dado preocupante, contudo, é a alta na quantidade de municípios que estão em uma situação classificada como "quase desertos" — contam somente com um ou dois veículos locais. Pesquisas realizadas anteriormente pelo Atlas apontam que iniciativas online "carecem de estrutura comercial e de gestão" e, muitas vezes, sofrem com a concorrência de sites de prefeituras e páginas criadas para funcionar somente em períodos eleitorais.

"A falta de políticas públicas para o segmento e os desafios para a sustentabilidade econômica que garanta a independência editorial são problemas conhecidos", apontam os autores do mapeamento. "Há em curso um apagamento da memória do cotidiano das nossas cidades, da nossa história recente registrada em arquivos digitais."

Os dados do Atlas são coletados por mais de 230 colaboradores voluntários, professores, pesquisadores e estudantes, sob coordenação-geral do presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) e editor-chefe do Projeto Comprova, Sérgio Lüdtke, e cinco chefes regionais: Jéssica Botelho, Angela Werdemberg, Mariama Correia, Dubes Sônego e Marcelo Crispim.

A 7ª edição da pesquisa teve financiamento do Google e apoio de Abraji, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), Associação Brasileira de Ensino em Jornalismo (Abej) e Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).

Tags