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Eugênio em 'Vale tudo', Luiz Salém se identifica com a solidão do mordomo: 'Quando minha mãe partiu, fiquei só'
Ator afirma que leva uma vida simples, mas se pudesse ter um 'funcionário de luxo', seria para lhe fazer barba e massagem

Costuma-se dizer que “a culpa é sempre do mordomo”. Mas Eugênio (Luiz Salém), coitado, se faz a salvação dos Roitman, em “Vale tudo”. Afetuoso com “dona Heleninha” (Paolla Oliveira), parceiro de “seu Afonso” (Humberto Carrão) e braço-direito de “dona Celina” (Malu Galli), a dona da mansão, em todas as ocasiões. Além de um tanto desconfiado, mas sempre pronto para servir “dona Odete” (Debora Bloch), que costuma ignorá-lo solenemente. Mas quem é este homem? Quais são suas raízes? Será que ele se dedica integralmente a essa família de super-ricos porque não tem uma para chamar de sua? Salém, seu intérprete, também gostaria de saber...
— Mais do que Eugênio ser o novo assassino de Odete, o que seria surpreendente, eu queria poder entender um pouco mais dele como ser humano. É um homem solitário, apresenta um vazio emocional pessoal, ao mesmo tempo que demonstra sentimento pelos que o cercam — observa o ator, de 61 anos, que se identifica com seu personagem na questão da solidão, e tem feito de sua família no Rio o amigo Patrick Portugal, de 25, e o cão vira-lata Zé, com quem divide o apartamento no Centro da cidade, enquanto grava a novela das nove.
Ao contrário de Eugênio, você tem família numerosa?
Não... Minha família era a minha mãe, Zélia. Sou filho único de mãe solo. Tive tios, tenho primos, mas não há proximidade com eles. Minha mãe, única mulher entre os irmãos, criou todos. Ficaram órfãos muito cedo. Na infância, por conta de eu ser sozinho, ela trazia um primo ou outro para passar o verão na nossa casa, no Rio. Mas depois a vida afastou a gente. Quando minha mãe partiu, fiquei sozinho.
Não conheceu o seu pai?
Conheci, mas não tínhamos relação afetiva. Ele aparecia esporadicamente, tinha outra família. Eu tenho irmãos por parte de pai, que conheci lá na adolescência. Sei que eles existem, eles sabem que eu existo, mas nunca tivemos um Natal, Páscoa, nada juntos. Quando fiquei conhecido na TV, meu pai veio me procurar, fazendo uns pedidos. Eu neguei. Quando ele morreu, minha mãe quis que eu fosse ao enterro dele em Rio Bonito. Lá, me levaram no quarto dele, e havia várias fotos minhas, como o Lázaro de “Salsa e merengue” (1996) e Benny, de “Anjo mau” (1997). Ele morreu nessa época, e eu fiquei olhando aquilo...
E sua mãe, se foi há muito tempo?
Em 2013, há 12 anos. Com a morte dela, fui morar na Bahia. Não só por essa perda, mas eu também perdi uma série de amigos próximos, como o (ator e chef) Rodolffo Bottino. Quando minha mãe estava viva, a casa ficava cheia, ela sempre foi muito receptiva em ajudar os outros. Na reta final de sua vida, a cuidadora, o fisioterapeuta, a secretária do lar viraram família. Foi me dando um sentimento meio estranho aqui no Rio e eu resolvi me mudar para Salvador. Estabeleci uma relação muito forte com a cidade, como um lugar em que eu pudesse ser mais feliz. Cheguei lá com mala, cuia e cão, em busca de uma vida mais simples. Éramos só eu e meu cachorro, Zé. Fui obrigado a encarar essa solidão que a vida me impôs e partir para descobrir novos amigos, nova família, novas relações afetuosas.
Nunca quis ter filhos?
Em algum momento, lá atrás, num sonho romântico. Mas passou. Por ser filho único, acabei herdando uma filha. Minha mãe passou a depender muito de mim. Não estou me queixando, mas havia essa necessidade de cuidá-la e protegê-la dos seus 80 aos 87 anos. Então, quando ela partiu, não quis mais ter responsabilidades assim.
Sua vida, você diz, é simples... Mas gosta de luxos?
Gosto de viver bem, mas não tenho luxos. Trabalhar tantos anos em TV aberta vai nos levando para um outro lugar, onde às vezes você tem a obrigação de parecer ser. Grande parte do público acha que todo mundo que faz televisão é rico. Claro que tem atores ricos, por mérito, inclusive. Mas eu não sou um deles. Vou de metrô da Zona Oeste à Zona Sul do Rio, mas não pago táxi nem carro de aplicativo para ainda ficar uma hora e meia no engarrafamento. E tem gente que estranha em me ver no transporte público...
Se tivesse condições, contrataria um mordomo?
Ah, eu não aguentaria. Atualmente, não consigo nem pensar em ter um namorado o tempo todo perto. Me dá um pouco de aflição. Agora, se eu fosse milionário, adoraria ter alguém só para fazer a minha barba. Acho um saco ficar raspando os pelos! E também para me fazer massagem todo dia. Esses seriam luxos bem-vindos (risos).
Já passou por uma instabilidade financeira como a Celina, que chegou a "somente R$ 5 milhões" na conta bancária?
(Risos) Que brasileiro nunca? Até os super-ricos, que vão ser taxados em algum momento... A pandemia mesmo, foi um momento muito brabo. Fiz leilão de um quadro e ajudei outras pessoas, que estavam até pior do que eu.
E casos de alcoolismo, vivenciou?
Tive um tio alcoolista. Lembro de lavar o banheiro, enquanto minha mãe cuidava e fazia comida pra ele. Também convivi com amigos que tiveram esse problema. Qualquer tipo de vício que você não consiga controlar é muito triste.
Você fuma...
(Salém dá entrevista com o cigarro aceso) Este vício aqui é um dos piores de se largar. É uma droga socialmente aceita. Hoje em dia, está mais marginalizado. Já parei por dois anos, voltei quando vim morar no Rio, ansioso com a novela.
Assim como Eugênio, abdicaria das folgas e da vida pessoal em função do trabalho?
Já aconteceu muito. Ator abdica de muita coisa. E quando a gente está fazendo uma novela, não comanda a própria agenda. Espero sair o roteiro de gravações toda quinta-feira à noite para planejar a próxima semana. Não só eu, como todo o elenco. Hora de ir ao dentista, ao médico... Estou louco para ir a Salvador, ver doutora Viviane Boccanera (dermatologista), pra dar um "up" na pele. Não tem dado tempo...
Confinados, para além do 'BBB'
Foi por causa do “Big Brother Brasil 25” que o estudante de teatro e produtor de audiovisual Patrick Portugal veio morar com Luiz Salém no Rio, em janeiro deste ano. Convidado, no ano passado, por um olheiro para participar do processo seletivo para o reality show, ao lado de uma colega de Salvador, o rapaz chegou até a fase final, da “cadeira elétrica”, mas acabou não sendo convocado para o programa. Ao perceber o amigo da ONG “Projeto Axé”, onde leciona teatro, cabisbaixo, Salém o convidou para uma temporada de verão no Rio, a fim de se aprimorar em cursos de teatro na CAL (Casa das Artes de Laranjeiras).
— Ele me dá uma força em casa, cuida do Zé para mim enquanto estou gravando e quando viajo. Mas o que fala mais alto é o apoio emocional mútuo. Ambos estamos longe de casa, ele deixou pai e mãe em Salvador. Tenho vários amigos no Rio, que eu amo de paixão, mas Patrick se faz presente no cotidiano — afirma o ator.
Ambos "estabanados", como eles mesmos confessam, Salém e Patrick, contudo, têm personalidades bem diferentes, ressalta o veterano:
— As pessoas ficam pensando que Patrick é meu filho adotivo ou meu marido. Não, ele tem a família dele. Não somos namorados, sequer temos uma relação amorosa. É, sim, uma relação bacana, entre amigos. Conturbada, às vezes. Eu também brigo com ele, numa cobrança normal, de uma pessoa mais velha lidando com uma mais jovem. Mas não me sinto nem um pouco responsável pelas atitudes dele. Só aconselho, dou alertas.
É o rapaz que costuma ir para a cozinha preparar as refeições, já que o anfitrião não tem habilidades culinárias. E “faz uma carne moída caprichada”, elogia Salém.
— Mas aqui não tem essa de pôr a mesa, regras de etiqueta, como na mansão dos Roitman. Cada um tem um prato, um copo e um par de talheres e se serve nas panelas mesmo — ressalta Patrick, bem-humorado, contando que tinha ido ao mercado comprar o desodorante, o leite e o biscoito preferido do amigo: — Eu agradeço bastante ao Salém, porque ele enfatizou em mim o interesse que eu já tinha pelo teatro, pela literatura. Tem sido bastante afetuoso e generoso comigo. Sou mais desorganizado que ele, mas a gente vai se entendendo (risos).