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Cúpula do Congresso e Centrão rechaçam pressão de aliados de Bolsonaro por anistia e pauta anti-STF após tornozeleira
Bolsonaristas já tiveram revés com decisão de Motta de manter o recesso e cancelar reuniões de comissões

A contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e a favor da anistia ao 8 de janeiro elencadas como prioridades por bolsonaristas é encarada como algo de difícil avanço no Congresso. A ofensiva foi decidida após reunião entre parlamentares bolsonaristas e o ex-presidente Jair Bolsonaro. A cúpula do Congresso, políticos com cargos de lideranças em partidos de centro e até uma ala do PL, legenda que encabeça o movimento, criticam a iniciativa.
Mesmo durante o recesso parlamentar, parlamentares bolsonaristas estão em Brasília. Eles se reuniram e decidiram apresentar uma lista de demandas como reação às medidas cautelares impostas ao ex-presidente, que está proibido de usar as redes sociais e sair de casa entre 19h e 6h, por suspeita de participar de uma articulação junto aos Estados Unidos para pressionar o Judiciário e o governo brasileiro em troca de perdão na trama golpista.
Também foi tentado que o recesso parlamentar fosse cancelado, mas o pedido não foi atendido pelos presidentes da Câmara, (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP).
— Isso (fazer sessão durante o recesso) é um absurdo. Como derrubo uma agenda com o prefeito de São Paulo? Não é assim, a gente tem uma programação. Dá para fazer por videoconferência, mas ir para Brasília é para deputado da internet. Deputado que trabalha não pode ir a Brasília a qualquer momento — disse o deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP), da ala do partido menos ligada ao bolsonarismo, mas próximo do presidente da legenda, Valdemar Costa Neto.
Deputados da oposição tentaram convocar sessões de comissões para aprovar homenagens a Bolsonaro. As reuniões foram canceladas por ofício de Motta, que justificou a decisão sob o argumento de que as reuniões durante o recesso “restringem a participação dos demais componentes das referidas comissões” e que não haveria “heterogeneidade de ideias”.
O projeto que dá anistia aos envolvidos nos atos golpistas do 8 de janeiro está na lista, assim como uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe o foro privilegiado, o que poderia tirar o caso no qual Bolsonaro é alvo das mãos do Supremo.
O líder do MDB na Câmara, Isnaldo Bulhões (AL), próximo de Motta, minimizou as demandas dos bolsonaristas.
— Não sei quem está levando isso a sério além de Bolsonaro e das figuras que são retrato dele. É patético, não são pautas pontuais. O conjunto da obra e o contexto geral dão vergonha alheia — disse o líder do MDB.
Também fazem parte dos pedidos dos bolsonaristas a proposta que muda a Lei do Impeachment para ministros do Supremo, o que na prática amplia as hipóteses de crime de responsabilidade por parte de ministros e uma segunda proposição, que busca impor prazos e novos critérios para a tramitação de pedidos de afastamento no Senado, o que evitaria que os pedidos ficassem na gaveta do presidente da Casa.
Há ainda uma pressão de bolsonaristas do Senado para pautar o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes, algo que mesmo dirigentes partidários do Centrão aliados de Bolsonaro veem como improvável.
Eduardo Bolsonaro
Além disso, há dificuldades para achar uma solução para que o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos e é investigado por tentar articular medidas contra o STF e já disse que teme ser preso ao voltar ao Brasil, não perca o mandato por faltas.
Uma solução estudada seria ele assumir o cargo de secretário estadual de algum governador bolsonarista, mas aliados de Bolsonaro no União Brasil, por exemplo, veem dificuldades para viabilizar isso e dizem que Eduardo teria que voltar ao Brasil para pelo menos tomar posse no cargo.
Outras alternativas, como mudar o regimento da Câmara para que ele exerça o mandato de forma remota ou ter o prazo máximo da licença ampliado, são vistas como de difícil aprovação na Câmara.