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Pix vai de crise a oportunidade para Lula em seis meses; veja estratégia do governo

Gatilho para o início da queda do presidente Luiz Inácio da Silva nas pesquisas de avaliação de governo, o Pix foi, em seis meses, de crise a oportunidade para o petista, na esteira da investigação comercial dos Estados Unidos sobre o modelo de transferência. Nas redes sociais, o Palácio do Planalto chegou a bradar que “o Pix é nosso, my friend” e que “parece que nosso Pix vem causando um ciúme danado lá fora”, enquanto Lula disse em pronunciamento que não aceitará ataques a esse “patrimônio do nosso povo”. Agora, petistas se organizam em grupos para reforçar a narrativa na arena digital.
Em meados de janeiro, a distorção de uma medida da Receita Federal que envolvia o Pix virou uma dor de cabeça para Lula, com acusações de que ele queria taxar a ferramenta. Com engajamento superlativo, o famoso vídeo do deputado (PL-MG) foi o epicentro da disputa e do emparedamento do presidente, que colocou em curso nas últimas semanas uma campanha para exaltar o Pix.
Como adiantou o colunista Lauro Jardim, do GLOBO, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) planeja apostar na defesa do modelo de transferência como uma das bandeiras da gestão. O movimento se dá na esteira do discurso de soberania nacional reforçado por Lula desde que Trump começou a ameaçar o país com tarifas e sanções.
O mapeamento de grupos de WhatsApp formados por aliados do governo para alinhar a estratégia de guerra digital mostra que, nos últimos dias, o apoio ao Pix ganhou tração. “Atenção para a missão! Tá rolando um post importante sobre a tentativa dos EUA de pressionar o Brasil E sabemos que o alvo da vez é o Pix. Sim, o nosso Pix!”, convocou uma coordenadora na semana passada.
A mensagem continha o link de uma publicação do Instagram oficial do governo que defendia a negociação de outros tópicos com o governo americano, mas sem dar margem para qualquer mudança no Pix: “Seguimos buscando todos os canais e não vamos desistir de negociar com os Estados Unidos para evitar a tarifa de 50% anunciada sobre nossos produtos. É legítimo e desejável que países soberanos debatam questões comerciais. Mas se o problema for o Pix... No way”, diz o texto. “Ele é um orgulho nacional, um exemplo para o mundo e vai continuar exatamente do jeitinho dele: gratuito, seguro e ajudando o povo brasileiro a tocar a vida.”
Criado por figuras do PT a fim de concentrar apoiadores do governo, o chamado Clube de Influência do Lula deu início, no mês passado, a um método mais organizado de comunicação nas redes. Nos grupos, a mobilização voltada para o Pix foi batizada de “Defenda o Pix, defenda o Brasil”.
Nos dois primeiros dias depois do anúncio da investigação comercial contra o Brasil, 15 e 16 de julho, as hashtags “Pix é do Brasil” e “BolsoTrump” tiveram 173 mil menções no X, distribuídas por 22 mil perfis, segundo levantamento da plataforma Brandwatch. Desse montante, no entanto, 50% ficaram concentrados em mil perfis — que chegaram a postar mais de 300 vezes por hora, num indício de comportamento automatizado, não orgânico,
Adesão à ferramenta
Pesquisa Radar Febraban de setembro do ano passado, feita pelo Ipespe, identificou que o Pix é aprovado por 95% dos brasileiros e tem a melhor nota entre todos os meios de pagamento testados — à frente, em ordem, dos cartões de débito e crédito, das transferências TED e do cheque bancário.
Professor da UFRJ, o cientista político Josué Medeiros é da tese de que o movimento de Trump contra o Brasil entregou a Lula a prerrogativa de valorizar os símbolos nacionais — e o Pix entrou no pacote.
— O principal apelo do Pix é que ele é seguro e fácil para a dinâmica da nossa economia popular. É uma mão na roda. Quando teve a crise do Pix, o problema do governo não foram as fake news em si, embora tivesse também. O centro da preocupação das pessoas era mexer na dinâmica, que é simples — afirma
Os números de utilização do Pix no país são impressionantes, como evidencia pesquisa do Google divulgada este mês. Em 2019, 43% dos brasileiros usavam dinheiro físico, percentual que caiu para 6% no ano passado. Em vigor desde 2020, o método digital de pagamento já foi usado por 93% da população adulta, sendo o mais frequente para 62%. Dentro do universo de dependentes da ferramenta, há os empreendedores, segmento sempre apontado como dificuldade para o PT.