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'Nossa soberania não é moeda de troca', diz Mauro Vieira em represália à defesa de Bolsonaro a Trump

Chanceler afirma que soberania nacional não é moeda de troca

Por Agência O Globo - 04/08/2025
'Nossa soberania não é moeda de troca', diz Mauro Vieira em represália à defesa de Bolsonaro a Trump
'Nossa soberania não é moeda de troca', diz Mauro Vieira em represália à defesa de Bolsonaro a Trump (Foto: O Globo)

O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou, nesta segunda-feira, que a soberania nacional não é moeda de troca. Sem citar nomes, Vieira disse que há ataques orquestrados por brasileiros em "conluio como forças estrangeiras", em uma referência indireta aos Estados Unidos e bolsonaristas que defendem sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). 

— A Constituição cidadã não está e nunca estará em qualquer mesa de negociação. Nossa soberania não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis — ressaltou Vieira,  ao discursar em uma solenidade de comemoração do aniversário de 80 anos do Instituto Rio Branco, no Itamaraty.

O presidente americano, Donald Trump, anunciou,  no último dia 9 de julho, uma sobretaxa de 50% sobre a maior parte do total exportado pelo Brasil e deixou claro que, em troca, quer a suspensão de um processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro que corre no STF. Nos EUA, o filho do ex-mandatário, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), tem atuado junto a autoridades daquele para a aplicação de sanções que já atingiram o ministro da Corte, Alexandre de Moraes. 

— Tenho enorme orgulho e sentido de responsabilidade na atual tarefa de liderar o Itamaraty na defesa da soberania brasileira de ataques orquestrados por brasileiros em conluio com forças estrangeiras. Nesse ultrajante conluio que tem como alvo a nossa democracia, os fatos e a realidade brasileira não importam para os que se erigem em veículo antipatriótico de intervenções estrangeiras — afirmou o chanceler.

Mauro Vieira ressaltou que o  Brasil é uma democracia que vive o mais longo período de vigência de liberdades civis e políticas de sua história republicana. Disse que, nos últimos 40 anos, o clima sempre foi de convivência  democrática ininterrupta, na qual o país resolveu pacificamente crises políticas e avançou em áreas como o combate à inflação, a modernização econômica e o enfrentamento das desigualdades sociais e regionais.

— Sejamos claros: nossa sociedade democrática e suas instituições derrotaram uma tentativa de golpe militar, cujos responsáveis estão hoje no banco dos réus, em processos transparentes, transmitidos pela TV em tempo real, com direito à ampla defesa e com pleno respeito ao devido processo legal — disse Vieira, referindo-se à tentativa de golpe da qual Bolsonaro é acusado.— Saudosistas declarados do arbítrio e amantes confessos da intervenção estrangeira não terão êxito — completou.

Na última quinta-feira, Vieira se reuniu, em Washington, com o secretário de Estado americano, Marco Rubio. Após o encontro, o ministro relatou ter dito a Rubio que o Brasil é independente e não se curva a pressões externas. Foi a primeira vez em que os chefes das diplomacias dos dois países conversaram, desde a posse de Trump, em janeiro deste ano.

De acordo com o chanceler, o Brasil considera "inaceitável e descabida" a ingerência na soberania nacional no que diz respeito a decisões do Poder Judiciário do Brasil,  inclusive a condução do processo judicial no qual é réu o ex-presidente Bolsonaro.

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