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Spike Lee, Adam McKay e outros cineastas assinam carta contra 'ataque autoritário' de Trump à liberdade de expressão
'Nós não temos um rei — temos um presidente', escreveram cerca de 2300 filiados ao Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos

Mais de 2300 nomes ligados ao Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (o Writers Guild of America) assinaram uma carta aberta denunciando "ataque autoritário sem precedentes” do presidente Donald Trump e seu governo. Entre os signatários estão nomes como Spike Lee, Adam McKay, Ilana Glazer, Mike Schur, Liz Merriwether e Tony Gilroy.
Segundo a revista Variety, o documento cita os “processos infundados” movidos pelo presidente norte-americano contra empresas de mídia que “publicaram reportagens de que ele não gosta e que ele transformou em acordos financeiros”, como o acordo da Paramount para pagar US$ 16 milhões a Trump para encerrar “um processo sem mérito” contra o programa "60 Minutes". Os roteiristas também destacam que Trump “retaliou contra publicações que fizeram reportagens factuais sobre a Casa Branca e ameaçou as licenças de emissoras”, além de pedir repetidamente o cancelamento de programas, noticiosos ou de entretenimento, que o criticam.

Confira o texto completo
Somos membros do Sindicato dos Roteiristas dos Estados Unidos (Writers Guild of America) que falam com uma só voz para denunciar os perigosos e crescentes ataques à Primeira Emenda, à mídia independente e à imprensa livre.
Somos um sindicato de roteiristas de cinema, televisão e jornalistas, construído e sustentado sobre a crença fundamental de que narrativas ousadas, comédias destemidas e reportagens firmes são indispensáveis para uma sociedade livre e democrática. Sempre soubemos que a fidelidade a esses princípios poderia nos tornar alvo de ataques — vindos de nossos empregadores, de interesses corporativos ou mesmo de políticos. Ainda assim, sempre compreendemos nosso papel em uma democracia saudável.
Agora, enfrentamos um ataque autoritário sem precedentes. Só nos últimos meses, o presidente Trump entrou com processos infundados contra organizações jornalísticas que publicaram reportagens das quais ele não gosta, e os transformou em acordos financeiros — o mais notório deles com a Paramount, que pagou US$ 16 milhões para encerrar um processo sem mérito contra o programa "60 Minutes". Ele retaliou contra publicações que relataram fatos sobre a Casa Branca e ameaçou as licenças de emissoras. Regularmente, pede o cancelamento de programas de notícias e entretenimento que o criticam, como os de fim de noite e, mais recentemente, "The View".
De forma alarmante, grande parte do governo federal agora se uniu a esses ataques. Republicanos no Congresso colaboraram para cortar o financiamento da Corporation for Public Broadcasting, com o objetivo de silenciar a PBS e a NPR. A FCC condicionou abertamente a aprovação da fusão entre a Skydance e a Paramount a garantias de que a CBS faria “mudanças significativas” no suposto viés ideológico de seu jornalismo e de sua programação de entretenimento. O presidente da FCC, Brendan Carr, ecoou as ameaças de Trump.
Ainda assim, a Paramount quer que acreditemos que o cancelamento de "The Late Show with Stephen Colbert" não teve relação com política ou com a aprovação da fusão.
Essas são tentativas antiamericanas de restringir os tipos de histórias e piadas que podem ser contadas, de silenciar a crítica e a dissidência.
Nós não temos um rei — temos um presidente. E o presidente não tem o direito de decidir o que vai ao ar na televisão, nos cinemas, nos palcos, nas nossas estantes ou nas notícias.
Conclamamos nossos representantes eleitos e os líderes da indústria a resistirem a esse abuso de poder. Conclamamos nosso público — cada pessoa disposta a lutar por um futuro livre e democrático — a levantar a voz.
Essa certamente não é a primeira vez que a liberdade de expressão é atacada neste país, mas ela continua sendo um direito nosso porque geração após geração de americanos se dedicou a protegê-la. Agora e sempre, quando escritores são atacados, nosso poder coletivo como sindicato nos permite reagir. Este período da vida americana não durará para sempre — e, quando terminar, o mundo se lembrará de quem teve coragem de se manifestar.