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De Pluto e Pateta, da Disney, a Baleia, de Graciliano Ramos: uma lista dos cachorros mais famosos das artes
Lassie, Rin Tin Tin e Marley também estão na seleção

Se os cães convivem com os homens há pelo menos 14 mil anos, segundo as mais recentes pesquisas arqueológicas, não dá para dizer que torná-lo personagem de narrativas e das obras de arte foi uma inovação do século XX. Uma das cenas mais tristes de “Odisseia” de Homero é a morte de Argos, o cachorro do herói Ulisses, logo depois de finalmente se reencontrar com o dono, depois de 20 anos. Mas foi o cinema, no século XX, e seus derivados, o desenho animado e a televisão, que levaram os cães para a ribalta, graças à empatia natural do animal com o grande público. Ao mesmo tempo em que os cães atraíram as massas na indústria de entretenimento, ganharam protagonismo na literatura, em romances que se tornaram memoráveis como “Caninos brancos” e “O chamado da selva”, de Jack London, e “Flush”, de Virginia Woolf
A lenda de Hollywood
Foi na onda de popularização, nos Estados Unidos, dos cães pastores europeus (belgas ou alemães), durante a I Guerra Mundial, e do sucesso de Strongheart, o primeiro da raça a fazer sucesso no celuloide, que surfou Rin Tin Tin. O animal se tornou uma das principais estrelas de Hollywood nos anos 1920, e gerou lendas — muitas alimentadas pelo seu treinador e tutor, Lee Duncan — como a que havia salvado a Warner da falência. O Rin Tin Tin original morreu em 1932, mas deixou seu legado em outros pastores batizados com este nome que estrelaram mais filmes e uma série de televisão.
Sacrificada
A linguagem tem a economia de palavras característica de Graciliano Ramos, e o capítulo é curto. Mas a morte da cachorra Baleia, em “Vidas Secas” (1938), romance adaptado para o cinema e para os quadrinhos, entrou para história da literatura brasileira ao tratar da fome e da pobreza do interior do Nordeste pelo ponto de vista de uma cadela. Ferida, acuada, baleada pelo dono, Fabiano, Baleia termina a vida sonhando com um mundo “todo cheio de preás, gordos, enormes”.
Versão brasileira
Se Hollywood teve Rin Tin Tin, a televisão brasileira, em seus primórdios, contra-atacou com Lobo, o companheiro de Carlos Miranda (morto este ano, aos 91 anos) em “O vigilante rodoviário”, da Tupi. No primeiro seriado nacional, com 38 episódios exibidos na década de 1960, os dois enfrentavam o crime nas estradas paulistas, a bordo de um Simca Chambord ou de uma motocicleta Harley-Davidson. Na vida real, Lobo se chamava King. Mas o nome foi rejeitado para ser usado na série pelo diretor e produtor Ary Fernandes. “Um seriado com um herói genuinamente brasileiro não poderia ter um cachorro chamado King”, explicou Fernandes anos depois.
Longa carreira
Interpretado pelo cachorro Pal, a collie Lassie apareceu pela primeira vez no cinema em 1943, com “Lassie come home”, que também tinha no elenco as ainda crianças Elizabeth Taylor e Roddy McDowall, do primeiro “O Planeta dos Macacos”. Ao longo de muitos filmes — houve espaço também para um “Filho de Lassie”, de 1945 — e séries de televisão, a personagem continuou a aparecer em sequências e remakes do original, o último, lançado em 2005.
Sedutores e vira-latas
Depois dos pastores e das collies, a vez dos vira-latas chegou em “A dama e o vagabundo” (1955), animação da Disney em que a bem-nascida Lady se deixa envolver por um cão com quem vive uma das mais românticas cenas do cinema: o jantar italiano no baco em que se beijam graças a um fio de espaguete.
Carioca
Rex foi criado pelo pintor Angelo de Aquino (1945-2007) em 1984. Tornou-se símbolo da fase figurativa do artista, ao longo de 20 anos. Na última grande exposição de Aquino antes de morrer, uma retrospectiva em 2004, na Casa França Brasil, no Rio, lá estava Rex, com seu traço característico, simples, bem-humorado, de língua de fora e envolto em cores alegres.
Melhor amigo de um camundongo
.Depois de aparecer em 1930, originalmente com o nome de Rover, Pluto deixou de ser apenas o mascote de Mickey Mouse, e passou a estrelar suas próprias animações — oficialmente, foram 48. A sua condição de animal de quatro patas que não fala no mundo Disney, onde os principais personagens são também animais, levou a uma questão que foi até parcialmente incluída no diálogo dos meninos de “Conta comigo”, o clássico sobre amizade na infância dos anos 1980: se Pluto é um cão, o que é o Pateta (resposta: um cão antropomórfico).
Bagunceiro
O jornalista John Grogan comprou um cachorro com a mulher para os dois terem certeza de que poderiam cuidar de um ser vivo antes de terem filhos. Cuidaram por 13 anos, e essa convivência com o bicho e as estrepolias que ele aprontava foram contadas em “Marley e eu”, fenômeno editorial que foi adaptado para o cinema com Owen Wilson e Jennifer Aniston em 2008.