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Série com Johnny Massaro e Bruna Linzmeyer reflete sobre epidemia da Aids nos anos 1980: ‘É sobre vida e não sobre morte’
‘Máscaras de oxigênio não cairão automaticamente’, com direção de Marcelo Gomes e Carol Minêm, teve exibição no Festival de Gramado

Um dos principais palcos do cinema nacional, o Festival de Gramado há três anos extende seu tapete vermelho também para séries brasileiras. Após apresentar as premières de “Cangaço novo”, em 2023, é de “Cidade de Deus: A luta não para”, no ano passado, agora foi a vez do evento apresentar a pré-estreia nacional de “Máscaras de oxigênio não cairão automaticamente”, com direção de Marcelo Gomes e Carol Minêm.
Com lançamento nacional no próximo dia 31, no streaming da HBO Max, a produção contou com aplausos animados por parte do público presente no Palácio dos Festivais na noite de sábado (16). A plateia se emocionou com a trama que se passa no final dos anos 1980. À época, antes que o AZT fosse liberado no Brasil, comissários de bordo se uniram para comprar no exterior o medicamento contra o HIV e ajudar pessoas infectadas.
— Como homem gay que nasceu nos anos 1989, eu nasci com um atestado de morte e permeou toda minha estrutura de vida. Quando passei pela COVID, pensei que era minha segunda pandemia. Hoje, 10 mil pessoas ainda morrem por ano de Aids no Brasil. E elas morrem por preconceito, porque temos medicamentos, temos prevenção. E é por isso que estamos contando essa história — destacou Thiago Pimentel, que produz a série ao lado de Mariza Leão e Tiago Rezende, seus parceiros na Morena Filmes, em coletiva para a imprensa na manhã deste domingo (17).
Além da experiência pessoal, Pimentel contou que ficou sabendo mais sobre a história a partir do documentário “Carta para além dos muros” (2019), de André Canto, e de uma matéria da BBC sobre o caso, escrita por Leandro Machado, sobre comissários da Varig que traziam AZT para o país de forma ilegal, em uma época em que a fiscalização era menor.
Marcelo Gomes lembrou que perdeu muitos amigos no período retratado e se emocionou ao receber o convite. Ele contou que quis retratar uma época, transmitindo um sentimento de liberdade. Para isso filmou, inclusive, com câmeras de VHS.
— Queríamos fazer uma série que falasse de vida e não sobre morte, sobre pessoas com vontade de viver em um país que estava saindo da ditadura. Estou muito emocionado com a oportunidade de contar essa história — afirmou Marcelo Gomes.
Johnny Massaro destaca a importância da série para relembrar uma história e também refletir sobre como é viver com Aids no Brasil.
— Hoje em dia, não é mais uma sentença de morte. Temos que celebrar os avanços da medicina e essas pessoas que ainda hoje vivem sobre um estigma — afirmou o ator.
Bruna Linzmeyer se divertiu ao interpretar uma comissária de bordo nos anos de ouro da aviação, enquanto que Ícaro Silva destacou a importância de tratar o tema como uma questão de saúde pública.
Durante o debate, a equipe reforçou a importância de atualizar também a forma como se referem a pessoas que vivem com o vírus, lembrando que termos pejorativos com “aidético” ou desatualizados como “soropositivos” devem ser deixado de lado.
— Hoje falamos “pessoas que vivem com HIV” — destaca Bruna. — Porque essas pessoas vivem. E, às vezes, vivem mais do que quem não possui o virias, porque essas pessoas vivem com muito acompanhamento médico, enquanto que nós, que não temos o vírus, muitas vezes relaxamos.
Cinema em foco
O Festival de Gramado teve seu pontapé inicial na última sexta-feira (15), com a exibição fora de competição de “O último azul”, de Gabriel Mascaro, filme vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim. A exibição foi acompanhada de uma homenagem ao ator Rodrigo Santoro com o Kikito de Cristal.
— Passa um filme inteiro na minha cabeça. São 32 anos desde que tudo começou. Eu tinha 18 anos e vou completar 50 na semana que vem. Nesse tempo, aprendi que fronteiras só existem na geografia. A nossa essência, as nossas dores e verdades são universais. Trabalhei em muitos países, em muitas línguas, mas minha essência e meu coração sempre foram muito brasileiros. Essa homenagem no mesmo dia da primeira exibição de “O último azul” no Brasil é muito especial para mim. Agradeço a todos os diretores que acreditaram em mim. Esse Kikito também celebra todos os que caminharam ao meu lado — falou o ator Rodrigo, que compareceu à cerimônia acompanhado da esposa, Mel Fronckowiak, e dos pais.
No sábado, antes da exibição de “Máscaras de oxigênio não cairão automaticamente”, ocorreu a inauguração da mostra competitiva com a exibição do drama “Nó”, de Laís Melo.
*O repórter viajou a convite da organização do Festival de Gramado.