Notícias

Hermeto Pascoal: 13 discos para entender o artista

Músico foi considerado um dos maiores instrumentistas do mundo

Por Agência O Globo - 14/09/2025
Hermeto Pascoal: 13 discos para entender o artista
Hermeto Pascoal (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Considerado um dos maiores instrumentistas do mundo, , deixou uma discografia pujante, de mais de mais de dez discos solos, além de participações em grupos e gravações emblemáticas.

—Dentre os instrumentistas brasileiros, Hermeto é o mais original e criativo — disse Victor Nuzzi, autor de “Quebra tudo! – A arte livre de Hermeto Pascoal”, ao GLOBO, na época do lançamento do livro, em 2024. — Ele é um homem-instrumento, difícil é saber o quais os instrumentos que ele não toca, dos convencionais aos que ele próprio criou, como o copo d’água e a chaleira, para não falar nos bichos. Em termos de criatividade, o Hermeto está no mesmo patamar de um Tom Jobim.

LEIA TAMBÉM: Morre Hermeto Pascoal, alagoano que se tornou ícone da música instrumental

Abaixo, 13 discos fundamentais do "Bruxo", como ele era carinhosamente chamado.

Em Som Maior (1965)

Único disco do grupo Sambrasa Trio, grupo de samba-jazz formado por Hermeto Pascoal no piano, Humberto Clayber no baixo e Airto Moreira na bateria. Além da faixa "Coalhada", de Hermeto, há “Aleluia”, de Edu Lobo e Ruy Guerra, “Nem o mar sabia”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli, e “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.

Quarteto novo (1967)

Em 1967, Theo de Barros (contrabaixo e violão), Heraldo do Monte (viola e guitarra) e Airto Moreira (bateria), que formaram um trio para acompanhar Geraldo Vandré em apresentações, recebeu a companhia de Hemeto Pascoal (piano e flauta). Eles, então, gravaram o único disco, "Quarteto novo", com músicas de Vandré e parceiros.

Brazilian Octopus (1969)

No fim dos anos 1960, Hemerto juntou-se ao guitarrista Lanny Gordin, ao pianista Cido Bianchi, ao violonista Olmir Stocker, ao contrabaixista Nilson da Matta e, juntos, no Brazilian Octopus, um grupo que surgiu grupo criado pela empresa têxtil Rhodia para animar seus desfiles. A turma lançou um álbum, em 1969.

— Não sei se eles me achavam bonito demais... — disse ao GLOBO, em tom de brincadeira, sobre os tempos de Brazilian Octopus. — Foi uma fase em que eu cismei de deixar o cabelo crescer. Depois, fui convidado pela própria Rhodia para ser manequim.

Hermeto Pascoal (1971)

Em 1971, levado pelo percussionista Airto Moreira (que tocava com o trompetista e mito do jazz Miles Davis), o músico gravou nos Estados Unidos “Hermeto”, seu primeiro LP solo, no qual gravou com orquestra e teve sua primeira experiência como arranjador.

— Acharam muito diferente a minha escrita, quiseram que eu fosse morar lá, mas eu achava que tinha algo a plantar no Brasil — disse ele ao GLOBO em 2016.

A música livre de Hermeto Pascoal (1973)

Em 1973, o músico gravou um disco no Brasil que entrou para a história por sua inovação: ele tocou entre porcos, galinhas, gansos e perus. Na edição de 12 de abril de 1973, O GLOBO escreveu que Hermeto estava determinado a provar "que a música está em qualquer lugar, num chiqueiro, num galinheiro, numa panela cheia de pedras, em garrafas, serras velhas ou em apitos".

— Só quero que não rotulem minha obra. Ela não é também para se dançar. Quem dança não assimila a men- sagem. O que eu fiz, nesse elepê, é para ser ouvido, num momento de tranqüilidade — ele disse na ocasião.

Slaves mass (1977)

Gravadas nos Estados Unidos com produção de Airto Moreira e Flora Purim, todas as sete músicas da versão original do disco foram escritas e arranjadas pelo próprio Hermeto, além de tocar teclado, sax soprano, flauta e violão. Em julho de 1977, em casa, no bairro Jabour, em Senador Camará, zona Oeste do Rio, ele falou ao GLOBO:

—Desse disco eu gosto de tudo, gosto dele todinho.

Cérebro magnético (1980)

O disco de 1980 tem canções como "Voz e vento", "Vou esperar" e a engenhosa "Dança na selva da cidade grande", que ele explicou como foi gravada, na edição do GLOBO de 7 de julho de 1980.

—Eu gravei o instrumental sozinho, com meu grupo fazendo só o vocal. Botei um tablado no estúdio, peguei correntes e guisos e dancei, batendo com eles nas tábuas. Ataquei mesmo de balé e depois fui botando outras coisas em cima, desde instrumentos tradicionais até barulhos de tambores, de pedras caindo, de chocalhos dentro d'água. Tem também o som de tomadas de luz ligando e desligando e os músicos cantando; "Vou caçar passarinho porque não quero dar trabalho a eles". Esta música quer dizer que a selva não é só na Amazônia, é aqui ambém. Lá na mata é uma maravilha; aqui também.

Montreux Jazz Festival ao vivo (Elis Regina, 1982)

O álbum lançado em 1982, que traz o show da artista feito em 1979 num dos festivais de jazz mais famosos do mundo, tem a participação de Hermeto, outro nome do line-up do evento. Elis, naquele junho do último ano da década de 1970, fez um show antes do Bruxo; ele, por sua vez, tocou com ela "Corcovado" e "Garota de Ipanema", numa apresentação inesquecível.

"Continuando sob aclamação, Elis e Hermeto não podiam deixar o palco", contou Nelson Motta, que cobriu o Festival para O GLOBO, na edição de 24 de julho de 1979. "O que fazer? O que cantar? "Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça..." Veio abaixo o povão que pedia mais e mais e mais mas não tinha mais. Os dois se abraçaram, se de ram as mãos, como dois lutadores vitoriosos levantaram suas próprias mãos dadas. O público aplaudia e era como se um cometa tivesse cortado aquele céu suíço".

Brasil Universo (1986)

Este álbum foi lançado quando Hermeto completou 50 anos de idade e tem a sinfonia de garrafas, triângulos, sanfona e cordas, envoltas em fita crepe e sacos de lixo, gravada nas 11 faixas. Em "Crianças", por exemplo, ele toca garrafas soprando-as como faria com um sax. Ele também usou o ruído da festa de 30 crianças, "comemorando qualquer coisa com boIo e guaraná". A conversa com as crianças, advertiu Hermeto em matéria publicada em 1986, é apenas fundo da melodia das garrafas.

Hermeto solo por diferentes caminhos (1988)

Desta vez, o Bruxo, com diz o título do álbum, está sozinho, caminhando por diferentes estradas: toca piano solo num álbum duplo lançado em 1988. No primeiro, interpreta suas próprias composições; no segundo, vai de Luiz Gonzaga, Johnny Alf, Peter Pan, Humberto Teixeira, Pixinguinha e outros.

Na crítica publicada em 17 de dezembro de 1988, Jose Domingos Rafaelli escreve que "poucos resistiriam ao teste de um álbum duplo em piano-solo sem cair na monotonia. Aqui isso não ocorre. A criatividade de Hermeto garante suficiente renovação para atrair a atenção do ouvinte".

Mundo Verde Esperança (2003)

No disco, das 14 faixas totais, 13 que levam nomes dos netos de Hermeto; a outra é uma homenagem ao instrumentista Victor Assis Brasil. "Mundo verde esperança" traz a participação das instrumentistas Beth Dau, Joana Flor, Mariana Bernardes, da Itiberê Orquestra Família, comandada por Itiberê Zwarg.

Hermeto Pascoal e sua Visão Original do Forró (2018)

Lançado em 2018, mas gravado em 1999 na cidade de Recife, "Hermeto Pascoal e sua Visão Original do Forró" traz o instrumentista brilhando na sanfona em 17 faixas e com convidados especiais como Alceu Valença, João Claudio Moreno e Marina Elali.

"Minha cabeça é universal", disse ele, na época do lançamento. "Não nasci para tocar só clássico ou só jazz".

Pra você, Ilza (2024)

O último álbum do músico teve canções totalmente dedicadas à mulher, Ilza Souza Silva, mãe de seus seis filhos e sua companheira de 1954 a 2000, ano em que ela faleceu, por causa de um câncer.

— Vivemos a vida toda, o tempo todo, até que Deus chamou para lá, estava na hora dela. O presente que eu poderia dar a alguém é a música — justificou-se Hermeto ao GLOBO na época do lançamento do disco.