Metanol no vinho e na cerveja: essas bebidas podem ser contaminadas? Entenda
Especialista explica como o composto químico entra nas bebidas alcoólicas

O consumo de bebidas contaminadas com metanol foi associado a pelo menos cinco mortes no estado de São Paulo. Segundo realizadas pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, as bebidas contaminadas eram gin, uísque e vodca, vendidos em bares e adegas. Mas e agora? O que é seguro beber?
De acordo com Thiago Correra, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP), o metanol pode aparecer de duas formas: naturalmente, durante a fermentação de frutas, ou por falhas no processo de destilação feita durante a produção, quando a fração inicial da destilação (“a cabeça”), rica em metanol, não é devidamente descartada.
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Metanol: saiba o que fazer em casos de suspeita de intoxicação
Mas o grande perigo está na adulteração deliberada, quando criminosos adicionam metanol industrial para aumentar o teor alcoólico aparente de uma bebida — prática ilegal e extremamente tóxica.
Quando se pensa em produção de bebidas com metanol, aquelas que mais oferecem risco de conter metanol em níveis perigosos, segundo o Correra, são os destilados, como cachaça, aguardente, whisky, principalmente quando produzidos de forma clandestina.
O químico explica que, nas bebidas fermentadas, como o vinho, o metanol pode surgir naturalmente em pequenas quantidades, por causa da fermentação das cascas das frutas ricas em pectina, mas geralmente em níveis baixos e regulamentados.
— A cerveja, por sua vez, praticamente não apresenta risco, porque o processo de produção não gera metanol em quantidades relevantes. Além disso, não existiria ganho econômico ilegal em inserir o metanol — explica.
No entanto, Correra alerta que, se o metanol for adicionado propositalmente a um copo que será servido, qualquer bebida está sujeita a ser contaminada.
O que difere o metanol do etanol?
Tanto o metanol quanto o etanol (álcool encontrado nas bebidas alcoólicas comuns), são, visivelmente, iguais. Eles são incolores e os cheiros também são similares. Portanto, à primeira vista, não é possível diferenciá-los. E isso se torna ainda mais difícil caso o metanol seja adicionado a uma bebida.
Contudo, a maneira como interagem com o corpo humano é muito diferente. Enquanto o etanol é metabolizado em acetaldeído, rapidamente transformado em acetato e liberado por meio da urina, o metanol se converte dentro do corpo em formaldeído, também chamado de formol, e depois, em ácido fórmico — ambos tóxicos para humanos.
Passo a passo para evitar bebidas contaminadas com metanol
A pedido do GLOBO, a Associação Brasileira de Bebidas (Abrabe) indica um passo a passo para garantir que a bebida alcoólica é segura:
Verifique a vedação da bebida comprada.
Analise se as bebidas seguem um padrão de quantidade de líquido. Caso não, pode ser um indicador de que algo está errado.
Confira os rótulos. Bebidas legais comercializadas no Brasil possuem contrarrótulo em português, com o número do registro do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Desconfie de preços muito baixos. Ofertas e promoções existem, mas, em se tratando das bebidas alcoólicas mais conhecidas e desejadas, existe uma média de preço de mercado.
Compre em locais confiáveis.
Sintomas da intoxicação por metanol
Dor de cabeça;
Náuseas;
Vômitos;
Dor abdominal;
Confusão mental;
Visão turva repentina ou até cegueira.