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Como é a trilha do vulcão Rinjani onde Juliana Marins caiu na Indonésia? Geólogos explicam solo escorregadio

Explosões ao longo dos séculos deixaram terreno instável e arenoso, com fragmentos de rochas vulcânicas de diversos tamanhos

Por Agência O Globo - 25/06/2025
Como é a trilha do vulcão Rinjani onde Juliana Marins caiu na Indonésia? Geólogos explicam solo escorregadio
(Foto: )

São camadas de cinzas, areia grossa, pó vulcânico e fragmentos rochosos de explosões constantes ao longo de séculos. O solo do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, tem características que o tornam extremamente instável. É como uma areia fofa, cheia de pedras de diversos tamanhos, especialmente na área do penhasco próxima à borda da caldeira, onde a brasileira , de 26 anos, caiu e morreu, após ficar quatro dias esperando resgate. O risco, no entanto, coabita com a paisagem cercada por cadeias de montanha, e um lago na cratera do vulcão, atraindo, diariamente, centenas de turistas de diversos lugares do mundo.

Juliana Marins:

Turista brasileira cai na Indonésia:

Um vídeo divulgado nas redes sociais mostra um grupo caminhando em um trecho da trilha, um pouco depois da área onde Juliana caiu. Ao pisar, o pé afunda e desliza com facilidade, exigindo o apoio de bastões de caminhada. O autor do vídeo, Lucas Vencio, gravou o trecho na viagem que fez em novembro do ano passado, e relatou: "É uma trilha que exige muito. No meu caso, foram dois dias intensos de subida e descida em um frio de -5 °C lá no topo".

O vulcão Rinjani vem tendo erupções desde a Idade Média. Dos anos 2000 até hoje, foram quatro explosões: 2004, 2009, 2010, e a última, em 2016. A cratera principal tem cerca de 8 quilômetros de extensão. Quando chove, a lama de lahar (uma mistura de água, cinzas vulcânicas, rochas e gelo, que se move rapidamente montanha abaixo) provocam erosão, que formam escarpas abruptas e inclinadas.

— Desde o século 19, com as erupções, não deu tempo de formar solos estáveis, e essa sucessão de explosões desestabiliza muito o solo, tornando as trilhas instáveis. O solo é composto por camadas de cinza vulcânica e rocha pulverizada, que se fragmentam em diferentes tamanhos, desde um pó fino até grãos de arenosos e pedras — afirma Renato Ramos, geólogo do Museu Nacional.

Antes do fechamento:

Segundo ele, as condições extremas, como nevoeiro, altitude de 3.700 metros, trilhas íngremes e o frio, tornam as condições ainda mais desafiadoras, oferecendo risco inclusive para as equipes de resgate.

A Indonésia tem mais de 100 vulcões ativos, e cerca de mil inativos. O país está na região do Cinturão de Fogo do Pacífico, também conhecido como Círculo de Fogo — uma área em forma de ferradura ao redor do Oceano Pacífico onde ocorre a maioria dos terremotos e atividade vulcânica do mundo.

— Os vulcões são diferentes entre si. No vulcão do tipo explosivo, como o Rinjani, são criadas muitas cinzas, o terreno fica muito arenoso e muito escorregadio, além de ser muito íngreme. Os vulcões no Havaí ou na Tailândia, por exemplo, já são muito diferentes, a lava é sólida, não explode como os da Indonésia — afirma Rosaly Lopes, vulcanóloga e cientista planetária, que atua no laboratório de produção a jato da NASA.

Como aconteceu o acidente de Juliana Marins?

Conduzidos por um guia local, Juliana Marins e outros turistas caminhavam por uma trilha ao cume do Monte Rinjani, na ilha de Lombok, na província indonésia de Sonda Ocidentel, cujo fuso horário local é 11 horas à frente do horário de Brasília. De acordo com a família, ela teria reclamado de cansaço e parado. O guia, então, teria seguido viagem, deixando a publicitária para trás, que acabou caindo em um desfiladeiro a 500 metros de profundidade. A jovem foi localizada por um drone na tarde de domingo (22).

De acordo com perfil oficial do Parque Nacional do Monte Rinjani, na Indonésia, "a vítima foi localizada com o uso de um drone, em posição presa a um paredão rochoso, a uma profundidade de aproximadamente 500 metros, e visualmente sem sinais de movimento às 6h30 (de segunda-feira (23) na Indonésia e 17h30 de domingo (22) no Brasil".

Autoridades da Indonésia detalharam na manhã da última segunda-feira como localizaram a brasileira Juliana Marins, que estava desaparecida após um acidente no vulcão do Monte Rinjani, o segundo mais alto do país. Informações publicadas no Instagram oficial do Parque apontam que a publicitária foi monitorada "com sucesso por um drone" e permanece presa em um penhasco rochoso a uma profundidade de cerca de 500 metros, "visualmente imóvel".

Na manhã desta terça-feira, Juliana foi encontrada morta, após quatro dias presa na encosta de difícil acesso, sem água, comida ou abrigo. A confirmação foi feita pela família nas redes sociais.