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Caso Wenderson Nunes Otávio: MP denuncia ex-soldado por atirar em colega em quartel e desmente versão de suicídio

Morte aconteceu no dia 15 de janeiro; desde então, o Exército sustentava a alegação deque Otávio teria se matado

Por Agência O Globo - 30/06/2025
Caso Wenderson Nunes Otávio: MP denuncia ex-soldado por atirar em colega em quartel e desmente versão de suicídio
Caso Wenderson Nunes Otávio: MP denuncia ex-soldado por atirar em colega em quartel e desmente versão de suicídio (Foto: Extra)

Cinco meses após à morte do soldado Wenderson Nunes Otávio, conhecido como Soldado Otávio, com um tiro na cabeça dentro de um alojamento militar no Rio de Janeiro, o Ministério Público concluiu que quem atirou no jovem de 19 anos foi Jonas Gomes Figueira, ex-soldado do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista, como mostrou o Fantástico, da TV Globo, no domingo (29). De acordo com a investigação, Otávio estava sentado, calçando o coturno, enquanto Jonas brincava com uma pistola 9 milímetros. Jonas apontou a arma na direção do colega e atirou, acreditando que o equipamento estivesse descarregado. O MP informa que Jonas responderá por homicídio com circunstâncias agravantes.

Pitbull:

Tragédia:

O caso ocorreu no dia 15 de janeiro. Na época, o Exército alegou que Otávio tinha se matado. Desde então, a família desconfiava desta versão e esperava uma solução para o caso.

— O Figueira era amigo do meu filho. Ele vivia dentro da minha casa. Ele me chamava de tia e eu tinha uma consideração muito grande por ele. Eu senti para mim que tinha sido um acidente. Eu sei que foi um acidente, só que eu gostaria que ele me falasse. Eu acho que ele queria falar. Mas ele foi proibido — afirmou a mãe de Otávio, Cristiana da Silva Nunes, ao Fantástico. — A dor não vai passar, mas estou aliviada em saber que a justiça está sendo feita.

Segundo depoimento de testemunhas ao Ministério Público Militar a que o Fantástico teve acesso, Jonas Figueira era uma pessoa imatura, "que sempre fazia brincadeiras com o armamento dentro do alojamento e que já chegou a apontar e encostar a arma na cabeça de um colega". Depois do ocorrido, Jonas não conseguia falar, colocou as mãos na cabeça, se ajoelhou e foi amparado por um sargento. Outro depoimento diz que ele chorou muito e que dizia ter matado o Wenderson Otávio.

Ainda de acordo com testemunhas, não era permitido entrar com armamento dentro do alojamento, mas, na prática, ninguém cumpria a regra antes da morte de Otávio. O terceiro sargento Alessandro dos Reis Monteiro também foi indiciado na denúncia do MP por não ter fiscalizado a entrada da arma no alojamento. Ele irá responder por condescendência criminosa.

— Veja que nesse caso concreto que estamos a tratar, houve um pequeno desvio disciplinar. Ou seja, o não cumprimento de uma ordem causou uma tragédia. Um militar que não cumpriu a disciplina causou uma tragédia — afirmou o procurador-geral de Justiça Militar Cláudio Bortolli, ao Fantástico.

Quem comunicou a morte à família foi o comandante Douglas Santos Leite, que, segundo testemunhas, teria obrigado todos a dizerem que o caso foi suicídio. De acordo com o MP,

"Ele reuniu o batalhão e decretou como ordem que foi um suicídio, que não se falava mais disso. Reuniu todos os militares. Quem foi embora, ele mandou voltar. Disse que quem tivesse contato com a família, com parente, que não era pra falar. Que se falasse, iria ser preso e iria ir embora. Mandado embora".

Pai da vítima, Adilson Firmino Rosa se diz, por um lado, indignado com a postura do comandante e, por outro, aliviado que o caso está tendo uma solução.

— Ele foi no sepultamento, o comandante Douglas, e falou para eu confiar nele, que ele ia chegar no autor. E, assim, como que eu ia confiar nele? Eu entreguei o meu filho vivo, me entregaram o meu filho morto, ainda mentiram, falaram que ele tirou a própria vida. Absurdo isso — afirmou. — Agora, que os culpados sejam penalizados e responsabilizados pelo crime que eles fizeram com o meu filho.

A defesa de Jonas Ferreira disse que recebe com tranquilidade a denúncia oferecida pelo Ministério Público Militar por suposta autoria atribuída a este no crime de homicídio qualificado e que entende que não há justa causa para a presente ação ou para uma futura condenação de Jonas pelos crimes que lhe são imputados. Acrescenta que Jonas afirma ser inocente.

O comandante Douglas se manifestou através da assessoria do Exército. Em nota, o Centro de Comunicação Social do Exército disse que desde o momento do ocorrido todas as ações realizadas pelo Comando do 26º Batalhão de Infantaria Paraquedista foram pautadas pelo estrito cumprimento das normas e em rigorosa observância das atribuições relativas ao cargo do Comandante. Tudo visando a garantir a lisura do processo e minimizar a disseminação de informações inverídicas. O órgão destacou ainda que, em nenhum momento, o Comando da Organização Militar afirmou, perante familiares ou militares do Batalhão, qualquer conclusão sobre a dinâmica dos fatos. E finaliza afirmando que todas as providências adotadas seguiram rigorosamente os preceitos legais, com total comprometimento com a verdade, a integridade, a ética, a justiça e o respeito ao militar falecido e sua família.