Tiago Abravanel vive Drácula em peça de comédia que estreia em SP após sucesso no exterior

Com texto satírico e cheio de referências pop, peça ‘Drácula — um terror de comédia’ fica em cartaz até outubro no Teatro Bravos

Por Agência O Globo - 15/08/2025

Criado no século 19 pelo autor irlandês Bram Stoker (1847-1912), Drácula teve centenas de adaptações para cinema, teatro e literatura, de interpretações clássicas a releituras contemporâneas. A partir desta sexta-feira (15), recebe uma versão um tanto inusitada do famoso vampiro. Com sangue brasileiro e uma sede insaciável por risadas, o conde será interpretado pelo ator e cantor Tiago Abravanel na peça “Drácula — um terror de comédia”. Inédita no Brasil, a montagem está em cartaz no Teatro Bravos, na zona oeste da capital paulista.

A peça é uma adaptação de um espetáculo que estreou em 2023 na off-Broadway, em Nova York, e que passou no primeiro semestre deste ano pelo off-West End, em Londres. Aclamado nas duas cidades, o texto satírico ganha agora um tom abrasileirado, recheado de referências da cultura pop.

— O Drácula é extremamente narcisista e sedutor. Ele seduz as mulheres, os homens e quem quer que esteja na frente dele. Tentei buscar o lugar que existe em mim com esse ego inflado, essa excentricidade de você olhar e pensar ‘espera, ele é hétero? Ele é gay? O que ele é?’. Procurei colocar essas nuances do personagem em todas as cenas, porque ele não poderia ser uma figura só assustadora, engraçada ou romântica. Na mesma cena ele está em um lugar denso, de terror, e logo em seguida ele quebra e faz uma piada sobre si mesmo — conta Abravanel sobre o processo de criação da sua versão do conde.

Sob direção de Ricardo Grasson e Heitor Garcia, a nova visão do conto gótico fala sobre um corretor de imóveis britânico que tenta ajudar um novo e misterioso cliente — o conde. Ao mesmo tempo, a equipe da caçadora de vampiros Jean Van Helsing procura por Drácula nas montanhas da Transilvânia.

— O brasileiro ama a comédia. A nossa cultura teatral e até mesmo televisiva é muito ligada à comédia. Montar a peça no Brasil faz com que a gente use um humor que é completamente diferente do americano e do inglês. Mesmo com a história se passando em outra época, ela tem referências e piadas sobre coisas atuais, até brincadeiras com o fato de ser quem sou (neto de Sílvio Santos) — brinca Abravanel.

Enquanto Tiago Abravanel é o único ator a interpretar apenas um personagem, o restante do elenco — formado por Lindsay Paulino, Bruna Guerin, Ludmillah Anjos, Jefferson Schroeder e Bernardo Berro — se desdobra em mais de um papel. Como todos conhecidos por musicais, a divulgação do espetáculo precisou até reforçar que não há cantorias na peça

— Quando divulgamos, a galera dos musicais foi à loucura. Tivemos que reforçar que é uma comédia — diz rindo.

Novidade na carreira

Apesar de ter crescido dentro do teatro — afinal, começou na área ainda criança, nos bastidores do Teatro Imprensa — Abravanel conta que esta será sua primeira atuação nos palcos que não é um musical. Com 20 anos de trabalhos profissionais, ele estreou em 2004, aos 17 anos, com o musical “Avoar”, de Vladimir Capella, e passou por produções como “Miss Saigon” e “Tim Maia — vale tudo”. No ano passado, ele produziu, dirigiu e estrelou a adaptação do espetáculo da Broadway “Hairspray”.

Mais do que acostumado com o canto e com a energia que é preciso ter para fazer musicais, o ator diz que ir para a comédia é como “sair da zona de conforto”.

— Esse lugar é o mais diferente até hoje da minha carreira no teatro, tem sido um grande desafio. Durante um tempo (na preparação), eu pensei que não sabia fazer isso… Mas, depois de muito estudo e de uma troca excepcional com o elenco, a ‘chave’ virou — diz Abravanel.

O convite para o papel, segundo ele, veio do produtor da montagem, Marco Griesi. Depois de viver a intensa atuação multitarefa em “Hairspray” (uma “experiência inesquecível”), o ator se viu em dúvida sobre qual seria seu próximo trabalho nos palcos.

Logo de cara, porém, o convite pareceu um tanto inusitado, uma vez que ele nunca havia visto uma versão de Drácula feita por um ator gordo.

— O ator que o fazia no off-Broadway é o estereótipo do homem padrão. Então, como colocamos esse personagem com um ego tão inflado em um corpo que normalmente não o veríamos? Como é o homem gordo se achar o mais ‘gostoso’ de todos? Apesar de estar em um processo de emagrecimento, indo para a academia todos os dias, ainda assim sou uma pessoa gorda, então encarei como um desafio. Ali sou eu, como ator, sabendo que tenho um corpo gordo mas me sentindo sexy e atraente. Tudo junto — conta.

"Drácula — um terror de comédia"

Onde: Teatro Bravos (Rua Coropé, 88, Pinheiros). Quando: sextas às 21h; sábados às 17h e 21h; domingos às 18h. Ingressos entre R$ 25 e R$ 300 (disponíveis em Sympla). Até 12 de outubro.

* Estagiária sob orientação de Pedro Carvalho