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'Sther sentiu que algo ruim iria acontecer, só não sabia que era com ela', diz irmã de jovem morta por traficante em baile funk no Rio

Sther Barroso dos Santos, de 22 anos, segundo a irmã, sonhou que estava sendo atacada por vários homens um dia antes de ser espancada brutalmente por criminosos na comunidade da Coreia, na Zona Oeste do Rio

Por Agência O Globo - 19/08/2025
'Sther sentiu que algo ruim iria acontecer, só não sabia que era com ela', diz irmã de jovem morta por traficante em baile funk no Rio
(Foto: )

A irmã da jovem Sther Barroso dos Santos, de 22 anos, assassinada por traficantes após se recusar a sair do baile funk com chefe do tráfico na madrugada de domingo, disse em entrevista ao Globo que a jovem "sonhou estar sendo atacada por vários homens e encurralada em um beco" um dia antes de ser morta. Ela chegou a ser socorrida por parentes e levada ao Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, mas já havia morrido quando deu entrada da unidade. O corpo de Sther Barroso será sepultado, nesta quarta-feira, no Cemitério de Ricardo de Albuquerque, na Zona Norte do Rio.

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— Ela teve um sonho ruim um dia antes de ser morta. Sonhou que estava sendo encurralada por alguns homens. Acho que ela sentiu que algo ruim iria acontecer, mas não imaginou que fosse com ela — disse a irmã da vítima que por motivos de segurança não será identificada.

Segundo a família, Sther foi torturada e deixada, já sem vida, na porta da casa em que morava, na Vila Aliança, por dois homens a mando de Bruno da Silva Loureiro, conhecido como Coronel, apontado como chefe da comunidade ligado ao Terceiro Comando Puro (TCP). O crime teria sido motivado pela recusa de Sther em deixar o baile com o criminoso. Parentes relatam ainda que a jovem estava realizando sonhos pessoais, como tirar carteira de habilitação e se mudar para um novo apartamento.

De acordo com a irmã, Sther não tinha qualquer envolvimento com atividades criminosas e vivia um período de conquistas pessoais.

— MInha irmã era muito ligada a Deus. A conexão dela com ele fez com que algo fosse revelado. Ela conseguiu financiar um apartamento no nome dela, para ela e para a família, e realizou o sonho de ter uma moto. Estava começando um curso e trabalhava no primeiro emprego dela, como operadora de caixa. Ela estava em um momento de realização da vida dela, depois de muitos sofrimentos. O peso amargo de perder essa luta, o choro de minha mãe, a favela toda tem que escutar. É desumano o que fizeram com a minha irmã. Entregaram ela sem vida, totalmente desfigurada — acrescentou.

A jovem era a caçula de oito irmãos. Foi criada em uma casa simples apenas pela mãe. Desde muito jovem, segundo a irmã, aprendeu a lidar com as dificuldades da vida. Sther também tinha muitos planos para o futuro: tirar a carteira de habilitação, se mudar para um novo apartamento, concluir cursos, adotar um cachorro e, futuramente, ser mãe. Em cadernos pessoais, Sther registrou o desejo de que 2025 seria “o melhor ano da minha vida”.

Nas redes sociais, amigos e familiares se manifestaram emocionados e cobraram justiça. Todos destacam que Sther era tranquila, dedicada à família e sonhava com uma vida diferente da violência que assola as comunidades.

Sonhos interrompidos

Antes de ser morta, Sther vivia um período de conquistas pessoais. Em cadernos, havia registrado as metas para 2025: concluir a autoescola, fazer três cursos, adotar um cachorro, manter os treinos de academia e agradecer a Deus todos os dias. Em uma das últimas anotações, deixou escrito: “Vai ser o melhor ano da minha vida, eu profetizo!”.

Segundo familiares, a jovem se preparava para se mudar para um novo apartamento e alimentava o desejo de recomeçar ao lado da família, que havia deixado o Muquiço, antiga comunidade onde morava, também sob domínio de traficantes.

Ela contou ainda que havia ajudado Sther a se arrumar para o baile no sábado, onde a jovem iria assistir ao show de um dos artistas que mais admirava.

— No sábado, estava ajudando ela se arrumar para curtir o show de um dos ídolos dela. Agora tenho que ver a roupa que vou enterrar minha irmã. Nunca imaginei que isso poderia acontecer ali, onde estávamos refazendo a vida e sendo felizes. Eu não tenho forças para imaginar a dor que minha irmã sentiu, o que passou na mão desse cara. Estou desacreditada completamente. Ela era diferente, especial — reforçou a irmã, muito emocionada.