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Laudo confirma que Sther morreu de hemorragia e politrauma; jovem foi espancada por recusar sair com traficante em baile funk
Certidão de óbito detalha causa da morte da jovem de 22 anos, assassinada na comunidade da Coreia, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio; família denuncia estupro e desfiguração

A certidão de óbito de Sther Barroso dos Santos, de 22 anos, ponta como causas da morte hemorragia subaracnóidea, traumatismo crânio encefálico e politrauma. A jovem foi morta no domingo, após se recusar a sair com um traficante em um baile funk na comunidade da Coreia, em Senador Camará, Zona Oeste do Rio. A família também denuncia que a jovem foi estuprada.
O documento confirma os relatos da família, que denunciou a violência sofrida pela jovem. Parentes afirmam que Sther foi espancada e deixada desfigurada na porta de casa, na Vila Aliança, depois de ter sido atacada por dois homens a mando de Bruno da Silva Loureiro, conhecido como Coronel, apontado como chefe da comunidade e integrante do Terceiro Comando Puro (TCP).
O traumatismo cranioencefálico (TCE) pode ser causado por fortes pancadas na cabeça, capazes de comprometer o cérebro. No caso de Sther, o exame aponta que a agressão resultou em uma hemorragia subaracnóidea — tipo de sangramento que ocorre entre o cérebro e a membrana que o envolve. O laudo ainda registrou politrauma, termo médico usado quando a vítima apresenta múltiplas lesões em diferentes partes do corpo, provocadas por violência intensa.
'Não é não'
Durante o velório, no Cemitério Ricardo de Albuquerque, nesta quarta-feira, familiares levantaram cartazes pedindo justiça e fizeram desabafos comoventes.
— Ela falou que não queria. Não é não, seu estuprador. Você ceifou a vida da minha irmã. Olha o que fizeram com ela, cheia de vida. Vou ter que falar para os seus sobrinhos, irmã, que a titia não vem mais — disse a irmã de Sther.
A mãe da jovem, Carina Couto, também pediu justiça e relatou a angústia da noite em que a filha não voltou para casa:
— Ninguém tinha o direito de tirar a vida da minha filha. Lutem por justiça por ela. Eu não dormi naquela noite, fiquei ansiosa porque ela não chegava.
Rosto desfigurado
Segundo a tia Gisele Barros, a violência foi tamanha que a família precisou pagar cerca de R$ 2 mil para reconstruir o rosto da jovem.
— Até para abrir o caixão foi horrível. Eles deixaram ela irreconhecível. Além do espancamento, ainda teve o estupro. A menina era uma princesa, parecia uma boneca. Mesmo com todo o trabalho do IML, ela continuava desfigurada. Eles acham que são donos de todas as pessoas da comunidade — disse.
A tia relatou ainda que a família vem sofrendo ameaças de Coronel:
— Não abandonem a causa da Sther. A família está com muito medo nesse momento.
Sonhos interrompidos
Antes de ser morta, Sther vivia uma fase de conquistas pessoais. Trabalhava, estudava, já tinha comprado uma casa em seu nome, estava em processo para tirar a carteira de habilitação e se preparava para se mudar para um novo apartamento.
Parentes contam que, um dia antes do crime, a jovem chegou a visitar o irmão preso. Naquela noite, relatou ter sonhado que estava sendo perseguida e encurralada por homens.
Investigação
O assassinato de Sther é investigado pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). De acordo com a polícia, Coronel acumula diversas anotações criminais por tráfico de drogas, roubo, homicídio, porte ilegal de arma de uso restrito, receptação e lesão corporal. Contra ele, há 12 mandados de prisão em aberto. Integrante do Terceiro Comando Puro (TCP), o traficante costumava se esconder no Complexo da Maré, na Zona Norte da capital, mas voltou a circular em comunidades da Zona Oeste, como Vila Aliança e Coreia, territórios dominados pela facção.
Apontado como figura violenta e de grande influência na facção, Coronel é descrito como alguém que usa a força para impor medo na comunidade.
O primeiro mandado de prisão preventiva contra Coronel foi expedido pela Justiça do Rio em 2019. Na ocasião, ele e outros dois suspeitos haviam sido denunciado pelo Ministério Público por homicídio duplamente qualificado, associação para o tráfico de drogas e corrupção de menores. De acordo com a denúncia, em setembro de 2018, os acusados, acompanhados de um adolescente, abriram fogo contra Douglas Luiz dos Santos Nascimento, que não resistiu aos ferimentos e morreu.
O Ministério Público sustenta os três mantinham uma associação criminosa voltada ao tráfico de drogas na Favela do Muquiço, em Deodoro, na Zona Norte, e que teriam envolvido o menor de idade nos crimes. O assassinato, segundo as investigações, teria sido motivado para demonstrar o poder da facção na região.
O último mandado de prisão preventiva contra Coronel foi expedido em junho do ano passado, por homicídio e organização criminosa. O MP denunciou o criminoso e um cúmplice por participação em uma chacina ocorrida em março de 2021, no Parque de Madureira, Zona Norte do Rio. Segundo a denúncia, os dois, junto a um terceiro homem ainda não identificado, atiraram contra cinco pessoas durante uma partida de futebol. O ataque teria sido motivado por disputas entre facções criminosas rivais: as vítimas estavam ligadas ao Comando Vermelho (CV), facção rival do TCP.