Idosos buscam cada vez mais autonomia e qualidade de vida na terceira idade
Proporcionar qualidade de vida para as pessoas idosas é um trabalho em conjunto que vem sendo cada vez mais procurado e realizado por profissionais, familiares e idosos alagoanos. A ideia de se manter ativo nesta idade é um projeto que começa a partir da fase adulta e vai se moldando ao passar do tempo, respeitando as limitações individuais, mas dando voz a sonhos que se tem no coração.
De acordo com o censo do IBGE, a população idosa em Alagoas aumentou de 12,4% em 2023 para 13,1% em 2024. Esse fenômeno é impulsionado pela queda na taxa de nascimentos e pelo aumento da expectativa de vida, com o envelhecimento sendo mais acentuado em regiões como o Agreste.
O tema ganhou ainda mais visibilidade depois da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) trazer como tema a “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”. O assunto tomou conta das redes sociais e abriu espaço para vários debates sobre como a sociedade pode trabalhar a chegada e as pessoas na terceira idade.
A forma de enxergar o envelhecer foi se moldando e cada vez mais é comum encontrar idosos que buscam tranquilidade. Segundo a psicóloga Patrícia Fidélis @patriciafidelis.psi, ainda é comum encontrar resistência ao processo terapêutico por parte dos idosos, mas também vem sendo constante a procura por qualidade de vida por essas pessoas.
“Na maioria das vezes, eles chegam ao consultório trazidos por um familiar que percebe sinais de ansiedade, tristeza ou retraimento, mas aos poucos, se percebe uma mudança no cenário. As crenças disfuncionais construídas ao longo da vida — como a ideia de que ‘terapia é coisa para quem está muito mal’ ou de que ‘não precisam falar sobre sentimentos’ — costumam ser um obstáculo inicial para a adesão. Mas quando o idoso se permite experimentar o processo e o vínculo terapêutico é estabelecido, os avanços se tornam claros e os resultados, muitas vezes, surpreendentes”, explica.
Com a busca pela aceitação e de enxergar a terceira idade não como um fim e sim como uma fase importante a ser vivida, não só o idoso, mas a família passa a observar um resgate da autonomia, melhora no convívio social, mais disposição para as atividades do dia a dia e uma leveza emocional que transforma a rotina.
“Eles se tornam mais presentes, mais conectados e visivelmente mais tranquilos, e acompanhar esse processo é realmente lindo no aspecto da psicologia”, finaliza.
Terceira idade não é o fim, pode ser o início da realização de novos sonhos
Por anos, ser idoso era uma sentença. Com as limitações físicas, muitas pessoas desistiram de coisas simples como, por exemplo, estudar ou viajar. Mas com a tecnologia, avanço da medicina e também da própria qualidade de vida, a terceira idade virou o momento perfeito para realizar sonhos.
Marcelo Cid (@marcelopcid) tem 63 anos, é aposentado mas continua indo atrás de seu sonho: ensinar as pessoas. Marcelo já é formado em pedagogia, trabalha pela manhã como copeiro, à tarde dá aula para turmas de 5º ano da rede pública, e nas horas vagas se dedica a aprender inglês.
Em entrevista ao Alagoas Notícia Boa (ALNB), Marcelo destacou a diferença que sente da sociedade em relação ao etarismo.
“Hoje eu me sinto mais acolhido, inclusive no mercado de trabalho. Antes o etarismo era muito forte, tinha muito preconceito com a idade. Uma prova disso foi quando fui fazer inscrição no Sine. Eu falei: ‘Mas eu já tenho 63 anos’. A atendente respondeu: ‘Lá no Palácio (do Governo) estão precisando de um copeiro, independente da idade’. Isso me surpreendeu positivamente. A sociedade é outra hoje”, conta Marcelo.
Hoje, Marcelo dá aula e se prepara para realizar mais um sonho: se graduar em matemática.
“Na sala de aula, com o quinto ano, eu vejo muitos alunos com dificuldade em matemática e sinto vontade de ir além, de ajudar mais. Só que eu tenho um limite: com Pedagogia eu posso atuar no Ensino Fundamental I. Quando vai para o Fundamental II, são matérias específicas, mais profundas. Eu gostaria de estender a minha atuação e acabei de fazer o Enem, pela primeira vez”, revela.
Outro um sonho: além da busca por mais uma formação, Marcelo busca adquirir mais um apartamento. “Mesmo aposentado, continuo sonhando e correndo atrás de objetivos. Um dos sonhos que estou tentando realizar é a compra de um segundo apartamento, para ter um complemento da aposentadoria. A gente já tem um apartamento, e eu queria outro, pensando nesse futuro”.
Processo ressignificado e com apoio profissional
Quando falamos da pessoa idosa, pensamos apenas no Geriatra como principal profissional responsável. Mas hoje, existe uma série de profissionais que trabalham dentro da ciência e da saúde melhorando a qualidade de vida dessas pessoas.
Entre elas, está a Isabela Christine, formada em Pedagogia e pós-graduada em Psicopedagogia Clínica e Institucional, que utiliza a psicopedagogia para trabalhar com reabilitação e estímulos cognitivos, auxiliando a turma de idosos a lidar com dificuldades emocionais e cognitivas, resgatando sua autonomia e promovendo a reintegração social.
Seu trabalho com os idosos é como uma escola. “Temos turmas e nós desenvolvemos atividades que estimulam a autonomia, auxiliam no resgate de memória para pessoas com Alzheimer, e como uma terapia em grupo. Trabalhamos com arte, cinema e aulas de campo. São estimuladas as habilidades cognitivas como memória, raciocínio, percepção, coordenação motora, orientação, direção, lateralidade, criatividade e muitas outras. Através de atividades impressas e personalizadas, o lúdico e a arteterapia”, explica a psicopedagoga.
O trabalho desenvolvido na clínica Terapia em Casa, utiliza estímulos cognitivos para auxiliar o idoso, seja ele diagnosticado com alguma doença ou não.
“Eu realizo avaliações, desenvolvo planos de intervenção personalizados, utilizando diferentes metodologias para promover o desenvolvimento, inclusão e trabalho nas dificuldades referente ao cognitivo. Montamos um plano individual para cada um, pois, a dificuldade de um não é a mesma do outro e, a partir daí, desenvolvemos”, explica.