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Rebaixamento de Lyon para a segunda divisão coloca pressão sobre John Textor

Punição do clube por má gestão financeira pode afetar os negócios da Eagle Football, incluindo o Botafogo, afirma especialista

Por Agência O Globo - 26/06/2025
Rebaixamento de Lyon para a segunda divisão coloca pressão sobre John Textor
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O anúncio do rebaixamento do Lyon, na França, por problemas financeiros, gerou revolta entre torcedores franceses, que pediram ontem a saída de John Textor em um protesto, e acendeu um alerta no Botafogo. Segundo especialistas, o clube carioca, assim como todos os ativos da Eagle Football, holding de Textor, pode sofrer impactos com essa crise.

Há dois dias, a DNCG (Direção Nacional de Controle e Gestão), órgão que fiscaliza gestão financeira dos clubes da França, decretou o rebaixamento do Lyon por falta de garantias de cerca de 175 milhões de euros para a próxima temporada. O clube vai recorrer, e John Textor precisará apresentar um novo plano, já que os argumentos de que levantará recursos com a venda de jogadores de Botafogo e de suas ações do Crystal Palace — em um negócio que ainda leva tempo até o pagamento — não convenceram o órgão.

Além de precisar de uma solução urgente para o Lyon, surge a preocupação dessa crise afetar principalmente o plano de recapitalização da Eagle que visa levantar US$ 1,1 bilhão (R$ 6,3 bilhões) como parte do processo de IPO (Oferta Pública inicial), para entrar na bolsa de valores de Nova York.

— Pensando no grupo, o impacto é brutal. Se o principal ativo dele é rebaixado por má gestão financeira, primeiro há queda de valor. Segundo, fica uma marca ruim, o que pode dificultar a captação de mais recursos. Esse rebaixamento é desastroso para o plano que ele construiu. — afirma o economista Cesar Grafietti, especialista em finanças do esporte e sócio da consultoria Convocados.

Sem o IPO, o pagamento dos empréstimos que a Eagle fez para os seus investimentos no futebol fica comprometido, destaca Grafietti. Textor pegou cerca de 425 milhões de euros emprestados junto à gestora de investimentos Ares Management Corporation para comprar o Lyon, por exemplo, com juros entre 11% e 16%, e vencimento em dezembro de 2028.

Diante da crise financeira, o Botafogo já está sendo impactado, diz o economista, citando a falta de transparência nas vendas de Luiz Henrique e Almada e a ausência do balanço financeiro, que deveria ter sido publicado em abril. Agora, há risco de o clube acelerar novas vendas.

Torcida protesta

A punição escancara que o modelo de John Textor de considerar um “caixa único” para sua rede de clubes não foi aceito pela DNCG, explica o parisiense Gianluca Pesapane, especialista em marketing esportivo e dono da agência CTRL. Ele faz um paralelo com o caso do Strasbourg, que pertence ao mesmo grupo dono do Chelsea, mas que cumpre as regras da liga francesa, pois apresenta orçamento independente do clube inglês.

— O futebol francês é o único da Europa com esse tipo de vigilância financeira — explica Pesapane, que acredita em uma reversão da punição, pela importância do Lyon para o campeonato e por seu patrimônio considerável, incluindo o estádio, que pode ser hipotecado. — Mas essa punição colocou muita pressão sobre John Textor.

Ontem, o jornal L’Equipe publicou uma reportagem que cita a possibilidade de Textor se afastar temporariamente do comando do Lyon como uma estratégia durante o recurso do clube. Uma possível substituta seria Michele Kang, a proprietária do time feminino, que foi vendido no ano passado: “ ele parece acuado e enfrenta, além da pressão popular crescente, a pressão interna de coacionistas e credores”.

Após a decisão do DNCG, os torcedores do Lyon foram às ruas da cidade protestar contra John Textor. A torcida organizada, Bad Gones, uma das principais do time francês, colocou diversas faixas pela cidade pedindo a saída do empresário americano.