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Aposentado da Câmara de SP, Milton Leite mantém influência, soma apadrinhados e gera incômodo
No fim de junho, vereadores aprovaram fim da reeleição infinita implementada pelo ex-presidente de Casa, considerada uma tentativa de limitar o poder que o cacique do União ainda exerce

Um dos políticos mais influentes de São Paulo nos últimos anos e sem mandato desde janeiro, o ex-vereador Milton Leite (União), seis vezes presidente da Câmara Municipal, não perdeu relevância ou poder com a aposentadoria legislativa. Presidente do diretório municipal do União, , enquanto acumula ao menos 20 indicações na prefeitura e em outros órgãos públicos, como o Tribunal de Contas do Município (TCM-SP) e a Assembleia Legislativa (Alesp), segundo apurou o GLOBO.
Com nova composição:
Em homenagem feita ao ex-vereador na Alesp, há duas semanas, o presidente da Câmara, Ricardo Teixeira (União), chegou a dizer que ainda liga para Leite quase todos os dias.
— Depois desses seis meses que eu estou lá (na presidência da Câmara), quase que todo dia eu ligo para ele. Tem dias que é difícil ligar porque ele está em alto mar, mas, mesmo assim, ele me atende — disse, em alusão à prática de Leite de sair para pescar.
Nos últimos quatro anos, Leite ocupou por quatro vezes seguidas a presidência da Câmara, período em que a Casa aprovou quase em modo “rolo compressor” as demandas de (MDB) — um fenômeno que não tem se repetido em 2025, após a aposentadoria do cacique.
Apesar de Milton não ter mandato, vereadores dizem que há “ingerência exagerada” do ex-presidente na Casa. Em abril, o principal grupo de Whatsapp de vereadores precisou ser recriado, após Leite resistir a sair do original, o que gerou incômodo. A presença do político também segue viva por meio da manutenção da maioria dos funcionários que auxiliam a Mesa da Câmara escolhidos na gestão passada.
Leite soma ainda indicações de apadrinhados na prefeitura, comandada por Nunes, incluindo a mãe e a filha de sua ex-namorada. Edileuza Cruz de Souza, mãe de Marília de Souza — ela se apresenta como mulher do ex-vereador e é conhecida nas redes e na ONG em que atua como Marília Leite —, recebe R$ 11 mil mensais como assessora do Departamento de Ação Social da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), vinculada à prefeitura.
No departamento, também estão empregados três membros da escola de samba Terceiro Milênio, da qual Leite é patrono. Já Nicolly de Souza, filha de Marília Souza-Leite, atua no gabinete do vereador Silvinho Leite (União).
— A Edileuza não é minha sogra e é uma ótima pessoa. Conheço boas pessoas na sociedade que trabalham bem e dignamente, e a Edileuza é uma delas. Tive um relacionamento com a Marília há dez anos e ele se encerrou — diz Leite, ao ser questionado sobre o motivo de Marília ainda se apresentar como sua esposa e Nicolly se dizer sua filha. — Ela teve muita assistência minha no período de relacionamento com a Marília e, seu eu puder, vou continuar a assistindo.
Procurado, Silvinho Leite — cuja mãe, Teresa Pereira, é funcionária do gabinete do deputado estadual Milton Leite Filho (União) — afirma que Nicolly “cumpre suas funções regularmente como servidora deste local de trabalho”.
Há outros indicados na gestão Nunes — o deputado federal licenciado Alexandre Leite, filho de Milton, é secretário de Relações Institucionais — e no Tribunal de Contas do Município (TCM), onde trabalham ainda a irmã da mãe de seus filhos, um sobrinho direto e o filho do chefe de gabinete da liderança do União na Alesp.
Em nota, tanto o TCM quanto Alexandre Leite confirmam os nomes e afirmam que todos trabalham regularmente. A CET e a SPTrans, que também têm indicados do ex-vereador, afirmam que os nomeados atuam normalmente.
Leite ainda participa de eventos públicos, principalmente na Zona Sul, seu reduto eleitoral. Em maio, esteve ao lado de Nunes na entrega de títulos de regularização fundiária do Jardim União.
Resposta de vereadores
As reclamações sobre a influência de Leite se refletiram na aprovação de um projeto, na última sessão antes do recesso da Câmara, para limitar a reeleição do presidente da Casa a apenas uma vez. Essa era a regra desde 1996, mas ela mudou em 2022, quando Leite propôs a alteração para permitir reeleições ilimitadas. Com a alteração, Teixeira, indicado ao cargo por Leite, só poderá tentar se reeleger por mais um ano.
Segundo um vereador da base, esse foi um movimento para “quebrar aos poucos” a influência do cacique. Outro vereador, também da base, afirma que a influência é tamanha que a bancada do União “não faz nada” sem falar com Leite e classifica como “caciquismo antigo” a atuação do político.
Leite disse ao GLOBO que vai fazer uma “transição no partido” e que vai se aposentar de vez, mas não escondeu seu peso no Legislativo:
— Você tem dúvidas de que se eu fosse vereador novamente eu seria o mais votado e seria presidente da Câmara de novo? Não tem dúvida.
Leite atua para alavancar vereadores aliados para o Congresso. Ao menos três devem deixar seus postos para tentar em 2026 engrossar a bancada federal do União, que negocia uma federação com o PP. O ex-vereador tem afirmado que presidirá o diretório estadual da federação, mas integrantes do PP negam o acerto.