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Democratas acusam Trump de abuso de poder em carta que contesta tarifas impostas ao Brasil
Parlamentares acusam presidente americano de agir em favor de

Senadores democratas enviaram nesta quinta-feira uma carta ao presidente dos Estados Unidos, , questionando as tarifas de 50% impostas às importações do Brasil. Ao todo, onze parlamentares da oposição assinam o documento. Eles acusam o presidente republicano de "claro abuso de poder" e afirmam que ele está usando "a economia americana para interferir em favor de um amigo de longa data", citando o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Os senadores também expressam na carta preocupações com as ameaças de "iniciar uma guerra comercial com o Brasil" que acabaria aumentando os custos para as famílias americanas.
“Escrevemos para expressar preocupações significativas sobre o claro abuso de poder inerente à sua recente ameaça de lançar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça tarifária do seu governo claramente não é direcionada a isso”, escreveram os senadores.
Precedente 'perigoso' e custo maior às famílias
No texto, os parlamentares alertam que a interferência no sistema jurídico de outro país soberano estabelece um precedente perigoso, acirra uma guerra comercial desnecessária e expõe cidadãos e empresas americanas ao risco de retaliação.
“Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses procedimentos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região”, continuaram os senadores.
Os democratas também destacaram o peso da relação comercial entre EUA e Brasil, afirmando que os americanos importam mais de US$ 40 bilhões anualmente do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café, e que o comércio bilateral sustenta cerca de 130 mil empregos nos EUA.
"Uma guerra comercial com o Brasil tornaria a vida mais cara para os americanos, prejudicaria as economias americana e brasileira e aproximaria o Brasil da China — tudo porque o presidente dos Estados Unidos quer corromper um processo judicial estrangeiro para ajudar seu amigo pessoal", disseram.
Quem assina a carta
Assinam a carta os senadores Jeanne Shaheen, democrata de New Hampshire, e Tim Kaine, democrata da Virgínia, ambos membros seniores do Comitê de Relações Exteriores do Senado.
O documento também é endossado por Adam Schiff, da Califórnia; Dick Durbin, de Illinois; Kirsten Gillibrand, de Nova York; Peter Welch, de Vermont; Catherine Cortez Masto, de Nevada; Mark R. Warner, também da Virgínia; Jacky Rosen, de Nevada; Michael Bennet, do Colorado; e pelo reverendo Raphael Warnock, da Geórgia.
Leia a carta na íntegra:
"Caro Presidente Trump:
Escrevemos para expressar preocupações significativas sobre o claro abuso de poder inerente à sua recente ameaça de lançar uma guerra comercial com o Brasil. Os Estados Unidos e o Brasil têm questões comerciais legítimas que devem ser discutidas e negociadas. No entanto, a ameaça tarifária do seu governo claramente não se dirige a isso. Tampouco se trata de um déficit comercial bilateral, já que os EUA tiveram um superávit comercial de US$ 7,4 bilhões com o Brasil em 2024 e não registram déficit comercial com o Brasil desde 2007.
Em vez disso – como você afirma explicitamente em sua carta ao presidente brasileiro Lula da Silva – a ameaça de impor tarifas de 50% sobre todas as importações do Brasil e a ordem do Representante Comercial dos EUA para iniciar uma investigação nos termos da Seção 301 da Lei de Comércio de 1974 visam principalmente forçar o sistema judiciário independente do Brasil a suspender o processo contra o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. Interferir no sistema jurídico de outra nação soberana cria um precedente perigoso, provoca uma guerra comercial desnecessária e coloca cidadãos e empresas americanas em risco de retaliação.
O Sr. Bolsonaro é um cidadão brasileiro que está sendo processado em tribunais brasileiros por supostas ações sob sua jurisdição. Ele é acusado de trabalhar para minar os resultados de uma eleição democrática no Brasil e de tramar um golpe de Estado. Usar todo o peso da economia americana para interferir nesses procedimentos em nome de um amigo é um grave abuso de poder, mina a influência dos Estados Unidos no Brasil e pode prejudicar nossos interesses mais amplos na região. O anúncio do seu governo, em 18 de julho de 2025, de sanções de visto contra funcionários do judiciário brasileiro que trabalham no caso do Sr. Bolsonaro indica – mais uma vez – a disposição do seu governo em priorizar sua agenda pessoal em detrimento dos interesses do povo americano.
Suas ações aumentariam os custos para as famílias e empresas americanas. Os americanos importam mais de US$ 40 bilhões anualmente do Brasil, incluindo quase US$ 2 bilhões em café. O comércio entre EUA e Brasil sustenta quase 130.000 empregos nos Estados Unidos, que estão em risco devido às ameaças de tarifas elevadas. O Brasil também prometeu retaliar, e vocês, preventivamente, prometeram retaliar na mesma moeda – o que significa que os exportadores americanos sofrerão e os impostos sobre as importações para os americanos subirão além do nível de 50% que vocês ameaçaram.
Uma guerra comercial com o Brasil também contribuirá para aproximar o Brasil da República Popular da China (RPC), em um momento em que os EUA precisam combater agressivamente a influência chinesa na América Latina. Empresas estatais chinesas e ligadas ao Estado estão investindo pesadamente no Brasil, incluindo diversos projetos portuários em andamento, e recentemente o China State Railway Group firmou um Memorando de Entendimento (MOU) para estudar um projeto ferroviário transcontinental.
Essas considerações não são exclusivas do Brasil. Em toda a América Latina, a RPC está trabalhando para ampliar sua influência por meio da Iniciativa Cinturão e Rota. Preocupa-nos que suas ações para minar um sistema judicial independente apenas aumentem o ceticismo em relação à influência americana em toda a região e forneçam às autoridades chinesas e às empresas estatais maior credibilidade para sua agenda. A mesma tendência também está ocorrendo no Leste e Sudeste Asiático.
Os objetivos primordiais dos EUA na América Latina devem ser o fortalecimento de relações econômicas mutuamente benéficas, a promoção de eleições democráticas livres e justas e o combate à influência da RPC. Instamos vocês a reconsiderarem suas ações e priorizarem os interesses econômicos dos americanos que desejam previsibilidade, e não mais uma guerra comercial."