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CEOs das maiores TVs do Brasil defendem regulação das plataformas digitais em evento em SP

SET Expo reuniu Paulo Marinho, da Globo, Daniela Beyruth, do SBT, Marcus Vinicius Vieira, da Record, e Carlos Luiz Giordani, da Band, para debater o futuro da televisão

Por Agência O Globo - 19/08/2025
CEOs das maiores TVs do Brasil defendem regulação das plataformas digitais em evento em SP
Imagem ilustrativa de uma criança usando o celular (Foto: Reprodução/internet)

A implementação da TV 3.0, que permitirá a maior integração da televisão com a internet e acarretará em melhorias na qualidade de som e imagem, trará oportunidades e desafios para as emissoras tradicionais, da possibilidade de novas receitas publicitárias à urgência da regulação das plataformas digitais. Esse foi tema do painel “Visão dos CEOs: o futuro da mídia”, que marcou abertura oficial da 35ª SET Expo, o maior evento de tecnologia e negócios do setor de mídia e entretenimento da América Latina, que começou nesta segunda-feira (18) e termina na quinta (21) no Distrito Anhembi, em São Paulo.

O debate reuniu os CEOs das maiores emissoras de TV do país: Paulo Marinho, da Globo, Carlos Luiz Giordani, do Grupo Bandeirantes, Daniela Beyruti, do SBT e Marcus Vinicius Vieira, da Record. Os quatro reafirmaram que o setor está unido para enfrentar os desafios trazidos pela inovação digital e defender interesses comuns. O painel foi mediado pelo jornalista Guilherme Ravache.

Para Marinho, a TV 3.0 permitirá a manutenção do pioneirismo da radiodifusão, “mantendo uma relação próxima com a audiência”, num momento em que a concorrência pela atenção do consumidor se ampliou.

— Temos que reagir em temos de tecnologia e inovação, buscando entregar um conteúdo de grande relevância para o brasileiro. A TV 3.0 vai trazer para a TV aberta a medição censitária da audiência, mais precisa, e permitir uma publicidade mais segmentada, personalizada — afirmou. — Estamos construindo nossa visão de futuro em conjunto com o mercado, para atendê-lo melhor, e em parceria com os nossos colegas (de outras emissoras). Temos iniciativas nessa direção, como o compartilhamento de infraestrutura e de boas práticas em inovação e tecnologia.

Claudio Luiz Giordani disse que as emissoras não são mais “concorrentes”:

— Estarmos aqui juntos prova que estamos unidos em defesa do meio. O rádio e TV têm uma relação diferenciada com o país. A TV aberta tem uma cauda longa pela frente. Já nos reinventamos em 2007, como a digitalização — afirmou o CEO, acrescentando que é necessário buscar apoio governamental para pressionar fabricantes de televisores e garantir a presença dos canais abertos nos aparelhos. — Se não, fica difícil. A competição (com as plataformas digitais) é acirrada e estão tentando nos expulsar da tela. Precisamos ter uma conversa franca com os fabricantes.

Atualmente, os canais precisam pagar para garantir seu espaço nos aparelhos de TV. O resultado tem sido o aumento da presença de plataformas digitais nos televisores em detrimento dos canais gratuitos.

— A meu ver, deveria haver uma imposição governamental de que toda televisão tem que ter acesso à TV aberta. Hoje já é difícil acessar a TV aberta em muitos televisores — insistiu Daniela Beyruti, do SBT.

Marinho lembrou que os canais abertos são concessões públicas, que produzem “conteúdos que promovem a cidadania e a educação” e cumprem uma série de obrigações legais. Por isso, “devem ter espaço nos televisores brasileiros”. Os debatedores também defenderam a regulação das plataformas digitais.

— A liberdade de expressão é um princípio básico que todos nós defendemos. Trata-se de coibir excessos e conteúdos falsos que afrontam a legislação brasileira, de criar mecanismos que beneficiem a sociedade brasileira. O papo da regulação passa por aí — afirmou Marinho, acrescentando que “a regulação não vai mitigar nossos desafios competitivos”. — Nós, da TV aberta, temos mecanismos de controle, temos responsabilidade pela publicidade que exibimos. É nocivo para a população ter acesso à publicidade fraudulenta que prolifera nos ambientes digitais.

Quanto ao futuro da TV, todos os CEOs se mostraram esperançosos e elogiaram as possibilidades trazidas pela inteligência artificial, embora tenham ressaltado que é difícil fazer previsões.

— Acredito na regionalização e em ganhar as novas gerações para a TV aberta. A IA está trazendo para o nosso negócio uma racionalização de custos muito grande, que vai nos ajudar na criação de conteúdo — disse Giordani, da Band. — O futuro da nossa indústria depende da nossa criatividade e da nossa união.

Marinho reforçou que a necessidade de continuar investido em bons conteúdos e destacou as oportunidades que a TV 3.0 trará:

— Haverá mais fluidez entre conteúdo linear e on demand, maior interatividade e imersão. Vamos poder oferecer conteúdo em 4K, 8K, com áudio imersivo. O telespectador vendo jogo vai poder escolher mais áudio da torcida ou da narração. O que vem aí com a IA é espantoso, com mudanças na cadeia de criação de conteúdo. Nosso objetivo é continuar sendo um ponto de encontro da população brasileira, valorizar o Brasil e suas histórias com conteúdo de qualidade. Isso nos ajuda a desenhar o futuro.

Assinatura do decreto.

Havia a expectativa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinasse durante o evento o decreto da TV 3.0. No entanto, o presidente da SET, Paulo Henrique Corona Viveiros de Castro afirmou na abertura que, “após idas e vindas”, foi acordado com o governo que o decreto será assinado “daqui a uma semana”. O ministro das Comunicações Frederico de Siqueira Filho esteve presente no evento e confirmou que a solenidade ocorrerá no dia 27 de agosto, às 11h, no Palácio do Planalto. O decreto, disse ele, é “prioridade para a radiodifusão brasileira”.

Durante a SET Expo, os visitantes podem conhecer a Estação Piloto da TV 3.0. A feira tem entrada gratuita para profissionais do setor e reúne mais de 500 marcas expositoras de todo o mundo.

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