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Alta da renda e turismo global impulsionam movimento aéreo no país

Por Agência O Globo - 21/08/2025
Alta da renda e turismo global impulsionam movimento aéreo no país
Aeroporto. (Foto: Foto: Reprodução.)

O número de passageiros em voos domésticos e internacionais pela primeira vez no país, segundo levantamento do Ministério de Portos e Aeroportos com base em dados da Agência Nacional de Aviação Civil (). Trata-se de recorde não só para julho — quando houve alta de 7,5% ante igual período do ano passado, mas para qualquer mês da série histórica iniciada em 2000. Outra marca inédita foi a de 9 milhões de viajantes em voos nacionais — acima dos 8,9 milhões de julho de 2015.

De janeiro a julho foram 73,4 milhões de passageiros nos aeroportos brasileiros entre voos domésticos e internacionais, alta de 9,6% sobre os mesmos sete meses de 2024. Do total, 57 milhões voaram em linhas nacionais, avanço de 8,2%, enquanto os demais 16,4 milhões estavam em linhas para o exterior, um salto de 15%, ou quase o dobro do crescimento do mercado interno.

Se esse ritmo for mantido ao longo do segundo semestre, afirmou o ministro de Portos e Aeroportos, , o Brasil vai fechar 2025 com cerca de 130 milhões de passageiros voando a partir de aeroportos do país. Em 2024, foram 118 milhões.

Um conjunto de fatores impulsiona viagens aéreas no Brasil, segundo especialistas: mudanças de hábito no pós-pandemia, ganho de renda — a reboque do mercado de trabalho aquecido — e alta do dólar, que estimula roteiros de viagens domésticas e regionais. Em paralelo, o Brasil expandiu em 16% a malha de voos internacionais este ano, acima da média mundial de 2,6%, segundo dados da Embratur.

— O cenário macroeconômico favorece. Apesar do juro alto prejudicando o crédito, o crescimento da economia e do emprego ajuda. E há uma questão específica da aviação, com mais rotas internacionais e mais estrangeiros vindo ao país — destaca a consultora de turismo Jeanine Pires.

— O internacional está batendo todos os recordes. Em 2024, foram 6,77 milhões de visitantes estrangeiros. Este ano, de janeiro a julho, já são 5,9 milhões. Isso representa mais geração de emprego e renda, do motorista de aplicativo ao primeiro emprego em serviços. E amplia a malha de voos domésticos e de passageiros dentro do país.

O casal de aposentados Jack e Diane — ele com 80 anos, ela com 78 — trocou o verão de Pittsburgh, nos EUA, pelo inverno carioca. Nos últimos dias, têm aproveitado para caminhar pelas orlas de Ipanema, Botafogo e Copacabana. A viagem ao país foi motivada pelo casamento de um sobrinho em Belo Horizonte.

— Achamos o valor do pacote bem razoável, considerando que estávamos vindo para uma das cidades mais famosas do mundo — conta Diane. — Sentimos que as coisas aqui são mais baratas porque usamos dólar, né? Isso facilita.

O turismo doméstico, porém, é a ponta de lança. Jeanine Pires acrescenta que, no pós-pandemia, as pessoas tendem a buscar destinos fora do eixo tradicional. E a retomada das viagens corporativas turbina o movimento:

— Negócios e eventos respondem por mais de metade do movimento aéreo no país. Da Cúpula do Brics ao show da Lady Gaga, no Rio, passando por congressos e feiras, é setor importante e que cresce.

Isso se traduz em viajantes. No Rio, o movimento de passageiros nos aeroportos de janeiro a junho subiu 18,5% ante igual período de 2024, quase o dobro da média nacional. Galeão e Santos Dumont somaram 13,2 milhões de passageiros em voos domésticos e internacionais.

Galeão tem alta de 25%

No Galeão, o crescimento superou 25%, com 9,98 milhões de pessoas voando, sendo 3,38 milhões delas em linhas nacionais. É o terceiro aeroporto mais movimentado do país, atrás apenas dos terminais de Guarulhos e Congonhas, em São Paulo. No Santos Dumont, a alta foi de 3%, com 3,4 milhões de passageiros.

O segmento de viagens corporativas alcançou R$ 12,5 bilhões em faturamento no Brasil em maio, segundo FecomércioSP e Associação Latino Americana de Gestores de Eventos e Viagens Corporativas (Alagev). Foi o melhor patamar desde maio de 2014.

Mariana Aldrigui, pesquisadora em Turismo da USP, diz que 2025 tem oferta doméstica de voos mais próxima àquela pré-pandemia. E um ano de menos feriados e com mais eventos traz previsibilidade:

— As passagens aéreas não são baratas. Aliás, pesaram mais na (prévia da) inflação de julho. Mas o brasileiro dá mais atenção a se antecipar, fazer gestão mais inteligente para comprar o bilhete. As viagens entraram no orçamento. O viajante acumula pontos no cartão, adere a clube de milhas, troca prioridades — diz. — Não vemos esses recordes s na hotelaria. De acordo com a Pnad, do IBGE, mais de 60% dos turistas domésticos ficam em casa de parentes e amigos.

A enfermeira pernambucana Juliana Medeiros, de 32 anos, diz que teve de procurar para encontrar bilhete a preço “razoável” para vir ao Rio.

— Penei para achar voo que coubesse no orçamento e escolhi aqueles cheios de escalas só para sair mais barato — desabafa. — A sorte é que a viagem estava sendo planejada há tempos e eu ia ficar hospedada na casa da minha amiga.

Mariana, da USP, ressalta o avanço no volume de visitantes argentinos, que somam mais da metade dos estrangeiros visitando o Brasil este ano:

— Mas ainda não temos nem 10% dos brasileiros voando de avião. Há muita oportunidade para crescer — diz.

Jack e Diane aproveitaram o casamento de um parente no Brasil para realizar um antigo sonho: conhecer o Rio. O casal de aposentados da Pensilvânia conta que a “cidade maravilhosa” foi recomendada por amigos e familiares.

Jack e Diane aproveitaram o casamento de um parente no Brasil para realizar um antigo sonho: conhecer o Rio. O casal de aposentados da Pensilvânia conta que a “cidade maravilhosa” foi recomendada por amigos e familiares.

Questão de simpatia

As advogadas colombianas Jessica Marina, de 22 anos, e Serena Quintero, de 23, chegaram ao Rio após uma semana em Brasília. Estão encantadas com as “noites cariocas” e elogiaram a educação e simpatia dos brasileiros.

Para fechar as férias

Após temporada em Búzios, a estilista chilena Maria Patricia Dias, de 65 anos, e a amiga, a comerciante Antonieta Arce, de 55, vieram ao Rio para “fechar as férias” e “mergulhar nas praias cariocas”. Já planejam a próxima visita.

*Estagiário, sob a supervisão de Danielle Nogueira

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