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Sindicato dos metalúrgicos entra em ação contra Embraer após empresa definir volta do presencial sem negociações

Trabalhadores criticam definição da medida sem chegar a acordo que considere suas demandas

Por Agência O Globo - 29/08/2025
Sindicato dos metalúrgicos entra em ação contra Embraer após empresa definir volta do presencial sem negociações
Sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (Foto: Reprodução/Lu Sudré)

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região ajuizou uma ação coletiva na Justiça contra a decisão da Embraer de retomar o trabalho presencial em pelo menos três dias da semana. Desde a pandemia de Covid-19, os funcionários da empresa vinham trabalhando em regime totalmente remoto.

Em março deste ano, a Embraer comunicou aos colaboradores que o trabalho passaria a ser híbrido a partir de agosto. No entanto, o anúncio foi motivo de críticas de trabalhadores e protestos organizados pelo sindicato, questionando a falta de negociação com os funcionários, o que fez com que a incorporação da medida fosse adiada para o início do ano que vem.

“A medida considera o momento de crescimento da companhia e para dar tempo aos colaboradores se adaptarem e também adequar a infraestrutura das unidades para maior fluxo de pessoas, a mudança ocorrerá apenas a partir de janeiro de 2026 nas unidades do Brasil”, disse a empresa em nota, acrescentando que as unidades no exterior já retornaram ao trabalho presencial.

Desde então, o sindicato vem tentando fazer negociações com a empresa, mas sem sucesso, segundo Herbert Claros, diretor da organização. Ele conta que foram feitas tentativas com o departamento de relações trabalhistas, com o Conselho de Administração, com o presidente da empresa e até com o Ministério do Trabalho, mas em todos os casos se recusaram a negociar.

O sindicato realizou uma pesquisa de opinião com os trabalhadores e elaborou uma proposta, aprovada por assembleia, solicitando que a empresa crie dois modelos de trabalho.

Para aqueles que agora moram longe da fábrica, como os que se mudaram para outros estados, ou que possuem problemas de saúde ou de mobilidade, o trabalho continuaria 100% remoto. Para os demais, a proposta é de um sistema híbrido, com dois dias presenciais, e três dias de home office, podendo variar conforme as especificidades de cada setor.

Erro contábil:

— Os gestores diziam que dificilmente iria voltar o presencial, então teve gente que se mudou, foi para Minas Gerais, Rio de Janeiro, tenho amigos que estão no Nordeste — conta Herbert.

Por outro lado, a Embraer argumenta que os dias presenciais podem agilizar a comunicação e a tomada de decisões no ambiente de trabalho.

“A iniciativa contribui para o fortalecimento do vínculo entre as equipes por meio de experiências compartilhadas, colaboração em projetos, desenvolvimento de pessoas, bem como maior agilidade na comunicação e tomada de decisões”, disse a nota da empresa, alegando que a Embraer irá apresentar sua defesa no momento legal oportuno do processo.

Outro aspecto que o sindicato tenta negociar é a manutenção de um vale-compras de 900 reais, que estava sendo recebido pelos funcionários desde a pandemia e que servia para comprar alimentos, uma vez que não estavam mais se alimentando no trabalho, além de ajudar nas despesar com internet, água e luz, necessárias para o home office. Com as mudanças no regime de trabalho, esse auxílio seria perdido.

O sindicato afirmou ainda que estão em período de negociações de data-base e estão pedindo a inclusão de uma cláusula sobre a questão do home office nas reuniões, além de aguardarem a audiência inicial do processo, a ser marcada pelo juiz.

— No começo, a gente até achava que o home office poderia ser um problema para o trabalhador, mas, na prática, a maioria disse que melhorou a qualidade de vida, que consegue fazer atividade física, ou acompanhar mais a educação dos filhos. Então, se esses trabalhadores estão dando lucratividade para a empresa, e a gente sabe que é um dos melhores anos da Embraer, o questionamento dos funcionários é ‘por que mudar?’.