Secom prestigia Bienal do Livro com amplo debate sobre fatos, verdade e comunicação
Painel reforça preocupação permanente de Wendel Palhares com o terror da desinformação
Em um mundo dominado pela tecnologia, em que os fatos se confundem com simulações e as fake news funcionam como uma espécie de terror social, vitimando o conjunto da sociedade, a 11ª Bienal Internacional do Livro de Alagoas cedeu espaço para um amplo e instigante debate sobre a ‘integridade da informação’, numa iniciativa da Secretaria de Estado da Comunicação, em sua constante luta contra a desinformação intencional e maléfica.
Na Sala Verde do Centro de Convenções de Jaraguá, o Painel se estendeu pela ensolarada tarde do sábado, 1º de novembro, sob a coordenação do secretário de Comunicação Wendel Palhares, que viabilizou o evento organizado pelo Núcleo de Integridade da Informação da Secom em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal).
Um trio de escol interagiu com integrantes da mesa e a plateia:
– Eugênio Bucci, professor titular da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP).
– Marco Schneider, pesquisador do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict).
– Myllena Diniz, jornalista, doutoranda, docente da UFRJ e colaboradora da plataforma de divulgação científica The Conversation Brazil.
Respondendo a questões postas pelos jornalistas Marcelo Firmino, diretor do Site EASSIM, e Alexandre Lino, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (Sindjornal), o mestre Eugênio Bucci mergulhou nas águas profundas da comunicação através dos tempos, iniciando com uma definição essencial: “Comunicar é próprio e exclusivo da natureza humana e é o que diferencia o homem das demais espécies vivas”.
Bucci discorreu sobre democracia, liberdade e comunicação, remontando aos tempos da Grécia Antiga, citando fatos relacionados a Sócrates, Platão e Aristóteles, e se deteve ao falar sobre a verdade – seja filosófica, científica, religiosa… Com ar crítico e irônico, também lembrou de eras longínquas e recentes em que democracias excluíam a participação das mulheres no processo político.
Buscando sempre associar suas intervenções ao papel central da comunicação no universo humano, o docente da USP analisou as redes sociais, o poderio das empresas de bigtechs e considerou que plataformas como a da TV Justiça, sob a batuta do Supremo Tribunal, não se comunicam com a sociedade como deveriam.
Na análise sobre o comando autoritário das bigtechs e o uso de canais e plataformas digitais de forma irresponsável e desordenada, com danos consideráveis para quem absorve seus informes, notícias e opiniões distorcidas, Eugênio Bucci foi categórico: “A única solução para esse problema é a regulação”, um mecanismo que, a seu ver, de forma alguma compactua com a censura, “muito pelo contrário”.
Ao interagir com o secretário Wendel Palhares, o professor da Universidade de São Paulo revelou ter informações que lhe permitem dizer que, em Alagoas, a comunicação com o público vem de cima “com o governo disponibilizando canais informativos que levam os fatos de modo íntegro e verdadeiro aos alagoanos”.
Questionando o efeito da desinformação proposital, Bucci e Palhares mencionaram o exemplo da cidade do Pìlar, na Grande Maceió, onde a gestão do governador Paulo Dantas conta com alto índice de aprovação de seus moradores e, no entanto, a mesma população – sob influência de fake news – tem a percepção de que a segurança pública não está correspondendo às expectativas.
O debate na Bienal foi aberto com Wendel Palhares declarando:
– Temos uma responsabilidade muito grande de preparar a sociedade para a enxurrada de informações que ela recebe diariamente, da hora que acorda à hora que vai dormir. Esse painel trata da comunicação pública e da importância da integridade da informação. É um momento de troca de experiências com grandes especialistas na área.
No contato com interlocutores e uma assistência formada por assessores da Secom, ex-secretários de Comunicação, nomes do sindicalismo alagoano, estudiosos e visitantes, o professor Eugênio Bucci disse ainda:
– Se não tivermos uma sociedade bem informada, educada e atenta aos próprios direitos, não teremos vigor na política nem no regime democrático. O trabalho que acompanhamos aqui em Alagoas revela uma preocupação que vem de cima, do próprio governo. A informação verídica não é apenas tarefa dos comunicadores, mas também de quem exerce o poder público.
E completou:
– A proposta da integridade da informação despertou em mim um grande interesse. Tenho trabalhado muito com o tema e acompanhado o avanço da desinformação, uma verdadeira tragédia. Por isso, considero fundamental que essa preocupação não seja apenas dos comunicadores, mas do Estado em seu mais alto nível.
Já o pesquisador Marco Schneider, autor do livro ‘Fascismo Zumbi: mídias sociais, inteligência artificial e desinformação’ – editado pela Garamond e com foco na tese de que as mídias digitais e a IA se entrelaçam com fenômenos políticos, éticos e culturais, assinalou:
– A desinformação e a inteligência artificial são as histórias de terror do nosso tempo. ‘Zumbi’ é uma palavra poderosa — para nós, representa liberdade, como em Zumbi dos Palmares, mas na indústria cultural norte-americana significa o morto-vivo. Essa metáfora ajuda a entender como a desinformação corrói e destrói.
Coube à jornalista Myllena Diniz encerrar o Painel abordando o papel da ciência e da comunicação pública no enfrentamento à desinformação. “Sem integridade da informação, nos perdemos em muitos aspectos — inclusive nas políticas públicas. Quando unificamos a informação e compreendemos suas particularidades, conseguimos alcançar mais pessoas”, disse.
Durante o Painel foram sorteados livros com os participantes, incluindo vários de autoria do mestre Eugênio Bucci, que também assina coluna no jornal O Estado de S. Paulo, integra o Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), é membro do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog e do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), além de vencedor do Prêmio Jabuti com o trabalho ‘Incerteza, um ensaio: Como pensamos a ideia que nos desorienta (e orienta o mundo digital)’.